1/27/2005

O quinto mês

Não fique para trás! Situe-se no contexto! Leia as mensagens anteriores ("A sorte grande", "O primeiro mês", "O segundo mês", "O terceiro mês" e "O quarto mês"). Talvez tudo isto faça mais sentido. Eu avisei!
---.

A Ciência é importantíssima para o desenvolvimento do ser humano. A título de exemplo, se o gás nunca tivesse sido descoberto, hoje os nossos fogões possuiriam pequenos paus e pedras no lugar dos bicos de gás. E apenas tomaríamos banhos de imersão, uma vez que seria estupidamente difícil aquecer a água de um chuveiro à medida que ela fosse caindo.
Sem electricidade, por exemplo, os computadores e internet apenas funcionariam enquanto pedalássemos fortemente na nossa bicicleta de ginástica com correia ligada a um gerador. E isso tornaria a leitura do DQD uma tarefa ainda mais penosa, dada a quantidade enorme de texto que esse site possui. Portanto, como vêem, a ciência e tecnologia são de uma importância extrema na nossa sociedade, sendo até responsáveis pelos projectos humorísticos mais interessantes alguma vez realizados dentro das nossas fronteiras.
É por isso que o meu quinto mês de vida seria dedicado à busca do desenvolvimento tecnológico.
Uma área científica que sempre me interessou foi o desenvolvimento de próteses biomecânicas. Portanto, parece-me óbvio que uma paragem num laboratório de investigação com vista a alterar algumas partes do meu corpo seja um passo obrigatório com vista a melhorar a qualidade do conhecimento humano sobre a matéria.
Começaria por amputar o meu braço esquerdo (tudo bem, não sou canhoto), dando ordens aos técnicos laboratoriais para que o conservassem de modo a poder ser reimplantado mais tarde. E trataria então de instalar um braço mecânico, à semelhança do esqueleto do Arnaldo Chuarzenega-mos no Terminator. É claro que o meu braço teria de possuir um pouco mais de estilo do que os torniquetes metalizados que costumamos ver nesses filmes manhosos de ficção científica. Seria por isso que contrataria a equipa de design da Apple. Teria então um braço mecatrónico, com a força de uma centena de braços humanos, leitor de mp3, telemóvel incorporado e um emissor de ondas electromagnéticas capazes de baralhar qualquer sistema de alarme de hipermercado. Delicio-me ao imaginar uma dessas cenas:

PIRIRIRIRIRIRIRIRIRI!!!!
- Desculpe, o senhor aí! – diz-me, inocentemente, um dos seguranças do Continente – se pudesse esperar um pouco… é que o alarme está a tocar…
- Ai sim? Mas será por minha causa? – perguntaria, fazendo-me de parvo
- Pois, eu julgo que sim. O senhor comprou alguma coisa neste hipermercado hoje?
- Não, nada mesmo. Estava de saída. Até passei pela saída que diz “Saída sem compras”, como vê.
- Pois, bem sei. Mas é que o alarme tocou, e eu vou ter de lhe perguntar o que é que possui dentro da sua mala. O senhor compreenderá, de certeza…
- Claro que compreendo. Mas espere, acho que tenho uma ideia do que poderá ter disparado o alarme. Ora segure-me aqui na mala enquanto eu arregaço a manga…

Dificilmente existirá vocabulário na língua portuguesa para descrever o ar de espanto do segurança e de todos os funcionários do hipermercado!
Parece que estou a ver a cena como se estivesse a passar neste momento!
O meu braço mexer-se-ia lentamente, ora para a direita, ora para a esquerda (um pouco como as coligações políticas no nosso país), para se baixar estrondosamente, logo de seguida, em cima do balcão de reclamações do hipermercado. Enquanto que o segurança mudava de cor e os seus cabelos se levantavam como as penas de um pavão na hora do engate, a revelação de que as funcionárias que se encontram por trás do balcão de reclamações não usam nada abaixo da cintura causaria grande embaraço à administração da Sonae (para além do prejuízo da substituição de um balcão agora feito em dois). O fabuloso ribombar que se faria sentir em todo o hipermercado atrairia os mais curiosos das redondezas que, sem saber o que fazer e boquiabertos com o grandioso espectáculo que os seus olhos acabavam de presenciar, chegariam apenas a tempo de me ouvir dizer

- Ops! Peço desculpa… é que o driver que põe esta coisa a funcionar ainda tem alguns bugs… Mas repare, tenho um leitor de mp3 com 100 GB. São mais de dois meses a tocar e sem repetir a mesma música!

Porém, trocar o braço seria apenas um começo. Sendo uma pessoa com quase dois metros de altitude e calçando o número 46, tenho grandes dificuldades em encontrar sapatos. Pelo que trocaria também os meus pés por próteses metálicas, igualmente desenhadas pela Apple, e com sistema de GPS ligado ao meu córtex visual. Assim, bastaria imaginar um local, e os meus pés levar-me-iam até lá. É óbvio que não perderia a oportunidade de entrar pela sapataria Charles adentro, pedindo para experimentar o par de sapatos mais caro da loja.

- Ora bem, sr. Toscano – diria o engravatado funcionário – vamos então experimentar o sapatinho. Se quiser ter a bondade de tirar o sapato que traz calçad… DEUS MEU! MINHA NOSSA SENHORA! QUE PORRA VEM A SER ESSA?!!!
- Gosta? É a minha prótese nova! Veja, até mandei implantar unhas humanas para dar um toque mais retro à coisa.
- Arrrrrghhh!! DEUS!!

E a perda de compostura do empregado não seria o maior problema da sapataria Charles naquele dia. Ou, pelo menos, não tão grande como ter de accionar o seguro pessoal de acidentes de trabalho e explicar à seguradora que um empregado ficou sem a sua dentição frontal após um cliente excêntrico ter mencionado que foi um sistema de GPS descontrolado que levou os seus pés até à boca do dito cujo.
Enfim, pormenores…
Mas deixando brincadeiras infantis de lado, estaria na altura de utilizar a tecnologia no meu próprio corpo com propósitos realmente úteis. Ou seja, instalando um emissor de FM estéreo, protegido pela minha caixa toráxica, e alimentado pelos meus batimentos cardíacos. Este transmissor seria potentíssimo, capaz de emitir em diversas frequências simultaneamente, a ponto de se sobrepor a todas as estações de rádio num raio de cinco quilómetros. As editoras discográficas assediar-me-iam violentamente, loucas para que eu assinasse um contrato que determinasse que só passaria música dos seus catálogos. Obviamente, não me deixaria comprar (até porque, caso não se lembrem, a ideia é gastar!). Promoveria eventos, concertos, exposições e saldos inexistentes, de modo a levar as pessoas para os sítios errados às horas erradas. A precisão e potência do emissor seria tal que até teria capacidade para modificar as luzes dos semáforos por onde eu passasse, criando o caos e a anarquia generalizada.
E nada seria como dantes.
Tudo graças à coragem de um homem que, a braços dados com uma avultada conta bancária, decidiu estudar as possibilidades científicas da biomecânica e contribuir grandemente para a evolução da espécie.

Moral da história: caso se queira transformar num cyborg, não se esqueça de guardar o contacto de um bom mecânico.

Pensem nisto, minhas chavinhas de estrela…

1/24/2005

O quarto mês

Se começou agora a ler este blog, por favor leia as mensagens anteriores ("Terceiro mês", "Segundo mês", "Primeiro mês" e "A Sorte grande") para se situar no contexto.

---.

O quarto mês.
A mudança de estação.
A altura certa para deixar de pensar apenas em mim e animar os meus amigos com algumas engraçadas surpresas.
Para começar, desenvolveria uma máquina do tempo, mas que apenas andasse cinco minutos para trás ou para a frente. Parto do princípio que deve ser fácil criar uma máquina destas. Afinal, estamos a falar de apenas cinco minutinhos… (difícil mesmo deve ser criar uma máquina que movimente anos!).
E partiria então para algumas inusitadas brincadeiras.
Começaria por regredir no tempo sempre que os meus amigos dissessem alguma coisa com piada, apenas para conseguir cortar-lhes a palavra antes de o dizerem novamente. Assim, poderia brincar aos adivinhos, levando-os a um estado de loucura quase certo em poucas horas.
Após o seu quase-enlouquecimento e aceitação forçada de que algo muito estranho se estaria a passar, convencê-los-ia que eu era um profeta enviado por Deus à Terra. Levá-los-ia a uma igreja e tentaria convertê-los ao Cristianismo através do Baptismo e da Primeira Comunhão.
Em seguida, organizaria uma espécie de cruzada religiosa itinerante a que chamaria “The Paróquia Roadshow” (demonstra mais modernismo quando dito em inglês). Consistiria num grupo de paroquiantes dedicados a espalhar a boa fé da causa cristã pelo país fora, mas cuja única função seria afastar os meus amigos durante uns dias para me permitir efectuar mais algumas alterações nas suas vidas.
Começaria por mudar os nomes a todos eles. Passariam a ter não os nomes que os pais lhes deram, mas aqueles nomes que o "profeta" julgaria serem mais adequados para a sua pessoa. O meu irmão Filipe Toscano, por exemplo, passaria a chamar-se Persifal. E o meu amigo Gabriel passaria a dar pelo fantástico nome de Rámon Escobar, qual chulo sul-americano com ligações à máfia colombiana.
Com a companhia da Sílvia Alberto, a quem patrocinaria uma sessão de fototerapia na Corporación Dermoestética para tirar aquele insidioso sinal da cara, dispenderia umas tardes na Loja do Cidadão a trocar os nomes e toda a documentação relevante dos meus amigos, via bilhete de identidade falso que adquiriria em Londres. Ao que parece, é das coisas mais fáceis de lá encontrar.
Mas não me ficava por aqui.
Criava também contas bancárias falsas para todos eles, com saldos muito inferiores aos reais e avultados créditos pendentes para pagamento.
As suas casas seriam vendidas (apartamentos novos em Chelas para todos!) e toda a sua história seria reconstruída desde a sua adolescência.
Quando voltassem do retiro, severamente drogados graças aos aditivos que teria colocado nas lancheiras antes da partida, entrariam em contacto com uma vida que nunca tiveram, criando neles um strésse tal que os deixaria à beira da psicopatia.
Seria então que organizaria uma festa para todos eles, tendo também como convidados diversas celebridades da comunicação social portuguesa. Porém, como se trataria de uma cerimónia formal, os meus amigos não possuiriam traje adequado, tendo de voltar para os respectivos (novos) lares. No trajecto para casa, os carros onde se movimentariam seriam assaltados por mafiosos encapuçados, que os levariam para um barracão abandonado no meio de um mato escuro. Amordaçados e amarrados a cadeiras, um agente de segurança do SIS, devidamente identificado, interrogá-los-ia violentamente, com holofote apontado à cara e tudo, até que o primeiro deles se urinasse pelas pernas abaixo. Neste momento, um cãozinho da Scottex entraria pelo barracão adentro com um rolo de papel higiénico pendurado ao pescoço. O agente tiraria uma das folhas de papel desse rolo, onde estaria escrita a palavra SURPRESA!! em letras maiúsculas (não esquecendo o ênfase nos pontos de exclamação).
Completamente confusos e sem saber o que fazer, dirigir-se-iam para fora do barracão, apenas para dar de caras com o cocktail a que não compareceram na minha casa. Dezenas de écrans TFT encontrar-se-iam espalhados pelas árvores, a mostrarem filmagens de todo o processo que os levou à situação actual, desde a construção da máquina do tempo à falsificação dos seus bilhetes de identidade. O DVD estaria à venda, recebendo cada um deles (e os convidados) uma cópia gratuita. Oferecer-lhes-ia também uma t-shirt com a inscrição “Converteram-me ao Cristianismo, mudaram-me a identidade, a história, a casa, as contas bancárias, foderam-me a vida toda, e a única coisa que recebi foi esta t-shirt da treta!”.
No final, agradecer-me-iam por ter trazido um pouco mais de animação às suas vidas (pelo menos, acho que é isso que fariam…).
E eu ficaria feliz por os ter ajudado a animarem-se, pois vivo profundamente convicto que a amizade pode – por vezes – representar algum esforço. Mas é um esforço que vale a pena perseverar.

Moral da história: com amigos assim, quem é que precisa de drogas?

Pensem nisto, seus solitários enfadonhos…

1/20/2005

O Terceiro mês

Se está a ler este belógue pela primeira vez, por favor leia as mensagens anteriores ("O primeiro mês", "O segundo mês" e "A Sorte Grande") para se situar no contexto.
---.

No terceiro mês do resto da minha vida, estava na altura de criar um canal de televisão. A sua modesta missão: tornar-se, em apenas quatro semanas, no canal de televisão mais visto do país!
A parte informativa seria uma componente muito importante no canal DQD. Em vez de jornalistas sérios e isentos, contrataria humoristas e escritores dementes para trazerem as notícias à populaça. Os noticiários seriam completamente opinativos (ainda mais do que na TVi), e os pivots teriam liberdade total para chamar nomes como “filho da puta” e “cabrão” aos entrevistados que bem entendessem. Um noticiário onde os jornalistas chamassem as coisas pelos seus nomes, portanto.
Mas não ficaria por aqui. A estação possuiria um leque de repórteres normais e acreditados, que apenas serviriam para disfarçar um verdadeiro exército de amadores com micro-câmaras e pequenos microfones, todos eles treinados por antigos espiões da Alemanha do Leste. A sua missão: penetrar nas empresas, instituições políticas, sociais, e restaurantes de luxo, e registar todos os podres, todas as negociatas sujas, toda a corrupção e cobrir todas as realizações de filmes porno efectuadas pela fundação criada no primeiro mês (ver mensagem “O Primeiro Mês”).
Toda a gente correria para casa, a seguir ao trabalho, para não perder um único minuto do noticiário da noite (transmitido via satélite para as comunidades imigrantes). Acusações formais em directo, cobertura jornalística das detenções, filmagens sórdidas de políticos a serem sodomizados nas suas celas ou no duche, enfim… haveria de tudo para todos os gostos.
O entretenimento também jogaria um papel fundamental na TV DQD. Só que, em vez de oferecer viagens a paraísos exóticos e automóveis a diesel, os concursos ofereceriam carregamentos de sabonetes, desodorizantes, cebolas e batatas, passeios turísticos à Coreia do Norte, ou qualquer coisa que fosse tida como realmente necessária para os concorrentes, de acordo com a opinião do juri do concurso em questão.
E não se pense que o tema frágil da educação seria deixado para trás. Seriam apresentados diariamente programas realmente educativos em que estrelas da indústria porno dariam aulas de educação sexual, exemplificando in sito e sem qualquer tipo de inibição. Quem diz educação sexual para jovens e jovens adultos, diz educação para idosos. Pequenos cursos instruiriam a terceira idade nas terminologias tecnológicas utilizadas actualmente, como o manuseamento de telemóveis, envio de sms, configuração de programas de email num computador ou o entendimento do calão da juventude sem ter de se assistir às telenovelas da TVi.
Verdade seja dita, se existisse um canal assim, você não o veria atentamente?

Moral da história: existe, de facto, um mundo melhor. Mas são precisos dois milhões de euros por mês para o criar...

Pensem nisso, seus pés descalços...

1/18/2005

O segundo mês

Para quem está a ler este belógue pela primeira vez, por favor leia as mensagens anteriores ("O primeiro mês" e "A Sorte Grande") para se situar no contexto.
---.
O segundo mês do resto da minha vida, após a rambóia sexual do primeiro mês, seria aproveitado para descansar longe de tudo e todos. E qual o melhor sítio para o fazer do que numa longínqua estação espacial com gravidade quase nula?
Poderia assim responder àquela questão primordial que me atormenta desde os meus tempos de menino: existirá ou não máquina de venda de chocolates a bordo de uma nave espacial? E se houver, será que aceita moedas de 2 euros?
Mas haveria outras brincadeiras com as quais poderia ocupar o meu tempo na estação espacial. Para começar, gostava realmente de saber para onde vão os dejectos humanos gerados na nave. Serão enviados para o espaço? Ou são cuidadosamente armazenados num bacio com tampa amovível para mais tarde serem reciclados na Terra?
Isso dá-me uma excelente ideia que, com o dinheiro ainda disponível, facilmente seria realizável. Porque não identificar meia-dúzia de alvos no planeta, como a Casa Branca, os estúdios da TVi ou a Embaixada de Espanha, e enviar para lá, via controlo GPS, o próprio receptáculo dos dejectos?
Estariam à espera de tudo menos de uma chuva de asteromerdóirdes espaciais…
Mas há mais. Através do meu computador portátil e com gravidade zero actualizaria o Diz Que Disse com grande pompa e circunstância. E já não teria os problemas que tenho com a Telepac para enviar mensagens para 2000 e tal subscritores a avisá-los que o site foi actualizado (uma vez que comprei a Telepac na semana anterior e a transformei numa central de pirataria para hackers).
O meu regresso à Terra não seria menos espectacular que a minha partida. Contrataria o coro de Santo Amaro de Oeiras para que entoasse alguns temas quando a nave aterrasse no Cabo Canaveral, com a menção explícita de que todos os membros do coro deveriam estar vestidos com fatos do coelho da Duracell e apenas cantassem os melhores êxitos dos Pet Shop Boys.
Ao sair da nave espacial, daria uma conferência de imprensa aos meios de comunicação social, apesar de só responder às perguntas que me apetecesse dignificar. Esta conferência apenas estaria aberta à imprensa cor-de-rosa, onde poria a circular o boato de que observei seres espaciais, com centenas de tentáculos, a cirandar a estação espacial e a prometer uma invasão à Terra num futuro muito próximo.
Na semana seguinte, adquiriria um exemplar de cada um desses jornais e revistas, que autografaria, para depois colocar em leilão no eBay, auferindo autênticos balúrdios. As receitas dessa venda seriam aplicadas na compra de centenas de tarântulas venenosas no mercado negro, que enviaria por correio expresso para todos os cantores de música pimba nacionais.

Moral da história: já que vou deixar o planeta, ao menos deixem-me fazer algum estrago!

Pensem nisto, terrestres inferiores…

1/17/2005

O primeiro mês

No seguimento da minha mensagem anterior (A "Sorte" grande), eis o que faria no primeiro mês do resto da minha vida se tivesse dois milhões de euros para gastar todos os meses.
Para começar, contrataria um realizador cinematográfico que respeito (David Aronofsky, por exemplo) e deixaria que ele filmasse todos os eventos ao longo deste mês para que criasse o melhor filme porno alguma vez feito à face da Terra.
Ora com ângulos de câmara sorrateiros, ora arrojados, ora com um ar de imagem amadora, ora com ruivas espampanantes, morenas esbeltas, loiras sumptuosas, mulatas fervorosas, gigolôs de grande prestígio, algumas cabras maltesas, acompanhantes de elevado gabarito e de várias nacionalidades; ora sozinho, em menage-à-trois, em grupo pequeno, em grupo grande, ora sob o efeito de drogas, ora sóbrio, ora em silêncio ou com acompanhamento musical capaz de fazer qualquer filme da Playboy corar de vergonha, embarcaria numa aventura sexual sem paralelo e desprovida de qualquer sentimento de culpa. Uma espécie de intensa experimentação efémera, com banda sonora de primeiro escalão, sound design meticulosamente preparado e a brilhante voz off do locutor Luís Gaspar a pontuar as cenas aqui e acolá ao jeito de um documentário da National Geographic.
Paralelamente a todo o processo, criaria uma empresa para fazer a distribuição do filme. Os lucros seriam aplicados na formação de uma fundação de incentivo aos jovens cineastas pornógrafos. Quem sabe, com um pouco de sorte e umas jogadas bem feitas, talvez essa fundação pudesse assumir um papel preponderante na construção de pornografia de qualidade da qual futuras gerações pudessem usufruir.
E com o plano sexual resolvido e muitas experiências celebradas, algumas delas pela primeira e última vez (como é o caso das cabras maltesas), poderia alegremente preparar-me para o meu segundo mês.
Mais sobre isso na próxima mensagem.

Moral da história: será que, dadas as circunstâncias, aquilo que acabei de escrever é assim tão descabido?

Pensem nisso, seus pornólios descarados…

1/12/2005

Para um programa político IV

Apostar em programas de re-qualificação técnica. Se se convencesse o Alberto João Jardim a mudar-se da política para o mundo do futebol, o Q.I. médio das duas actividades subia vertiginosamente.

Para um programa político III

Não me parece boa ideia o Governo saído das eleições ter um blog. Os links para blogs de amigos iria arrastar o carregamento da página.

Para um programa político II

Devia apostar-se mais na produção literária nacional. A situação está tal que temos de prender os nossos grandes escritores (na penitenciária, mas também em quintas) para os convencermos a criar para o mercado nacional.

Para um programa político I

A educação devia ser gratuita e universal. Assim como assim, os Portugueses não sabem ler e não vão perceber a promessa.

1/10/2005

A "Sorte" Grande

Suponhamos que ganhámos 25 milhões de euros no Euromilhões. E suponhamos também que recebemos essa brilhante notícia no mesmo dia em que descobrimos que apenas temos 13 meses de vida graças a um vírus estranho que contraímos após termos experimentado um par de calças no El Corte Inglés.
Estamos podres de ricos, é verdade! Mas a puta da morte vem-nos buscar dentro de 13 meses e não haverá dinheiro que nos safe dessa sorte marreca.
Ora se gastarmos um milhão de euros para garantir que o nosso décimo terceiro mês seja passado sem dor, na companhia da família e em condições super-privilegiadas, sobram-nos 24 milhões para os restantes 12 meses de vida. A meta, então, será gastar dois milhões por mês nas fantasias mais absurdas e fantásticas. Passar um último ano do caraças antes de deixar o planeta duma vez por todas.
Às vezes penso nestas situações absurdas para estimular a minha imaginação. E os resultados são sempre diferentes, conforme o estado de espírito da altura.
Por isso, as minhas próximas dozes mensagens vão reflectir cada uma das fantasias que eu realizaria se me visse a braços dados com semelhante situação no início deste 2005. Fica aqui prometido que, se ainda for vivo em 2006, volto a repetir esta série da "Sorte Grande" no início desse ano.
Já agora, só a título de curiosidade, já pensaram que - das centenas de pessoas que lêem isto semanalmente - é grande a probabilidade de que algumas delas não cheguem a 2006? Uma probabilidade, sem dúvida, estupidamente maior do que sair um grande prémio a qualquer um de nós. E no entanto continuamos a jogar. O que é que será que andamos a fazer com a nossa vida? Será que estamos a apostar nas coisas certas?
Just a thought...

Moral da história: há filosofias positivistas que nos dizem que devemos viver todos os dias como se fossem o último. Isto é um disparate tremendo! Conduzir e trabalhar com uma moca de morfina não dá jeito nenhum e pode causar-nos problemas sérios.

Pensem nisto, seus moribundos anónimos…

1/07/2005

A fertilidade nacional

Ontem dei comigo a ver um debate sobre contracepção num canal qualquer. Continuo a ficar pasmado ao observar a relutância da Igreja a não querer ceder no que toca à necessidade de contraconcepção. Por outro lado, o papel da Igreja na sociedade é remar contra a maré, pelo que até se compreende essa atitude retógrada e inconsequente.
O que eu não compreendo é o medo de alguns homens ao não quererem experimentar a chamada “pílula do dia anterior”. Ao que parece, o funcionamento desta pílula é muito simples. O homem toma-a no dia anterior a ter relações, e no dia seguinte não ejacula. Sim, é claro que não deve dar o mesmo gozo fazê-lo dessa forma. Deve ser o mesmo que fruir uma excelente refeição num não menos excelente restaurante e não comer sobremesa. Mas se a alternativa for carregar uma criança, rabugenta e ranhosa, num carrinho de bebé cada vez que se quiser sair para comprar um maço de tabaco, então não há muito para discutir, pois não?
Porém, uma dúvida algo relevante assalta-me a mente. Como toda a gente sabe, existe a “pílula do dia seguinte” para que as mulheres consigam efectuar um aborto invulsivo após terem tido relações. E a minha questão é: será que se um homem tomar a pílula do dia anterior e a mulher tomar a pílula do dia seguinte, isso poderá fazer com que as duas pílulas se cancelem, dando origem a uma criança com cinco braços, oito pernas e quatro cabeças com gostos musicais distintos?
O melhor é continuar a usar preservativo para evitar estas chatices. Ou, em alternativa, pedir ao veterinário do nosso cãozinho que nos estirilize por um preço mais reduzido.

Moral da história: Normalmente os veterinários não precisam de passar facturas quando se trata deste tipo de procedimentos cirúrgicos, pelo que pode contar com pelo menos 19% de desconto no preço final da operação.

Pensem nisto, seus fazedores de ninhadas…

1/05/2005

Os pessimistas

Quem é que não odeia aquelas pessoas que estão sempre bem dispostas, sempre com um sorriso nos lábios, como se nada do que se passa de mau no mundo as afectasse?
É por isso que eu gosto de me rodear de pessoas pessimistas antes de tomar qualquer decisão importante na minha vida.
Porquê?
Porque sou optimista. Apenas um pessimista consegue perceber instantaneamente onde é que os brilhantes planos para o meu futuro vão falhar.

Moral da história: não se preocupem muito com decisões mal tomadas. Quando elas se revelarem, há-de haver alguém que vos vai apontar o indicador enquanto diz que “Eu não disse?”

Pensem nisto, minhas abéculas desmamadas…

1/04/2005

Previsão para 2005 - por NostroDemo

No seguimento da tragédia do Tsunami, Santana Lopes falará ao país. Num cenário de gabinete de trabalho arrumado, com a fotografia do Papa, o Ex-primeiro-ministro-de-gestão irá advertir os portugueses para o perigo da oposição estar constantemente a fazer ondas.

Prontamente Francisco Louçã responderá:«Isto de se julgar um eterno "enfant terrible" contribui para que mande estas bocas a la El Niño. Ele que vá fazer hidro-ginástica em vez de dormir a sesta»
.

As primeiras desilusões

Mais uma passagem de ano. As doze passas eram apenas uvas ressequidas e o champanhe não era mais do que espumante rasca.

Cock Missed Mass

Mais um Natal. Mais uma vez o sacana do galo baldou-se à missa! Pelo menos, foi o que me contaram...

Eles "andarem" aí! - parte 2

Lisboa acolheu a comunidade Taizé. Era vê-los de manhã, uns ensonados, outros mesmo a dormir. Pareciam a comunidade Tzé-Tzé (*). Andavam carregados de malas, completamente atarantados, perdidos na reduzida complexidade do metropolitano lisboeta. Mas nenhum pedia ajuda, nem sequer entre eles. Pelos vistos ser cristão é ajudar os outros, mas não ser humilde para pedir ajuda!

(*) - Mosca Tzé-Tzé - Mosca africana, também conhecida como mosca do sono, devido aos efeitos provocados pela sua picada.

Eles "andarem" aí!

Aí vêm eles! Oh não! A porta do metro fechou-se, mas eles conseguiram entrar. A trupe de romenos que toca músicas de Natal. Três acordeões e uma pandeireta, que serve também para a recolha de moedas que as pessoas teimam em dar. Num dos acordeões percebe-se a melodia de uma música natalícia, nos outros dois, que supostamente fariam o acompanhamento, não fora pelos foles e diria que se estava perante um duelo de máquinas de escrever. Felizmente esta época acabou e as trupes desaparecem. Venham os saldos!

1/03/2005

A minha passagem de ano

Os meus pais decidiram partir em busca de uma juventude há muito perdida e fugiram para Paris. A minha mulher foi com os pais para um bailarico na terra deles, em Aljezur. O meu irmão decidiu ficar em Londres, onde se encontra a viver, para passar o reveillon com a namorada nova numa festa qualquer. Grande parte dos meus amigos organizaram encontros e festas repletos de comidas, drogas e bebidas.
Eu fiquei sozinho com um bom jantar, ao qual gostaria que se tivesse sucedido um bom filme.
Porém, acabei por passar o meu fim-de-ano no Hospital de Santa Maria.
O meu avô sofreu uma infecção nos brônquios nesse dia. E como a minha avó não tinha condições para o levar ao hospital, fui eu o motorista designado.
Foi uma noite diferente e emocionalmente conflituosa. Enquanto me sentava ao lado da cama onde o meu avô havia sido internado e o ouvia dizer que aquilo era a morte a chamar por ele, olhei em volta. Na sala onde nos encontrávamos estavam mais umas quatro ou cinco pessoas, estando a sua privacidade "assegurada" por uns horríveis biombos de tecido branco semelhantes a cortinas de duche com armações em ferro. Sempre achei o ambiente dos hospitais algo de horrendo mas, neste dia em especial, o hospital parecia-me ainda mais tenebroso. Parecia excluído do tempo. Lá fora, metade do mundo soltava gritos de alegria e satisfação pela chegada iminente de 2005. Lá dentro, os gritos eram de dor e desespero. Todo o ambiente se assemelhava a uma versão rasca de uma série do Laars Von Trier.
Quase que não dava pelo ano a passar, não fosse o chavascal feito por dois ou três enfermeiros num cubículo qualquer onde viam um programa do Herman José.
Fui para a rua fumar um cigarro. Não sabia bem como me havia de sentir. Em frente ao hospital, os carros passavam a apitar alarvemente. E quando não passavam em frente ao hospital, ouviam-se à distância. Por trás de mim, apenas ouvia berros de dor, choros desesperados e olhares assustados de familiares de acidentados recém-chegados às urgências.
Eu nunca liguei muito a passagens de ano e reveillons, mas consigo compreender a alegria eufórica e meio irracional a que as pessoas se entregam nessas noites. A sensação de que nos foi dada mais uma oportunidade para endireitar a vidinha. "É este ano que vou deixar de fumar", "É este ano que vou perder 20 quilos", "É este ano que vou aprender a amassar pão de centeio". E nós festejamos, alegres e patéticos, sem saber bem porquê.
Eu não festejei. Noites houve em 2004 que ninguém me conseguiu parar quieto, de tão excitado e "celebratório" que estava! Mas nesta noite específica de 2004, sabendo que 150 000 seres da minha espécie bateram a bota debaixo duma onda gigante, ouvindo os gritos de dor no interior de um hospital e chegando à conclusão que aquela merda deve ser assim todas as noites... peço desculpa mas não senti vontade de celebrar fosse o que fosse. Que se foda 2005, que se foda o final de 2004, que se foda toda a gente que sentiu vontade usar a buzina do carro quando passava em frente ao hospital!
Bem, na realidade, tudo isto é treta. Passei o fim de ano em casa com a minha família mais próxima e não coloquei sequer o pé num hospital. Estive no calor, num ambiente familiar, luzes cuidadosamente trabalhadas de acordo com a época festiva e iguarias gastronómicas a condizer.

Mas acredito que a história que escrevi seja a história de alguém que tenha dito adeus a 2004 dolorosamente. A todos os portugueses e portuguesas que assim passaram o seu fim de ano, os meus sinceros pêsames. Hoje foram vocês, amanhã somos nós.

Moral da história: nem sempre as mensagens nos blogs têm de ter piada. A primeira mensagem do ano, por exemplo, pode ser séria e profunda.

Pensem nisto, seus renovados dois-mil-e-cinqueiros...