4/29/2005

Parangonas de jornal, parte I

TVi ASSINA CONTRATO COM INSTITUTO MÉDICO-LEGAL DO PORTO PARA TRANSMISSÃO DE AUTÓPSIAS EM HORÁRIO NOBRE!

Na origem da decisão está um estudo de mercado efectuado pela Markteste que - entre outras coisas - não deixa grande espaço para a imaginação ao afirmar "A TVi sofre de problemas sérios, em termos de qualidade, na sua programação. As suas telenovelas deixam muito a desejar... desejar termos um revólver ou uma catana para podermos cometer alguma espécie de ritual suicida sempre que começam!"

E, bem vistas as coisas, um ritual suicida em directo seria um brinco para qualquer canal. Como é que ainda ninguém pensou nisto?

Moral da história: já existem programas de cirurgia plástica "live" a serem emitidos para canais terrestres generalistas (em Inglaterra, por exemplo). Será que uma autópsia em directo é assim tão disparatado? Já estou a imaginar o programa todo, com uma introdução um pouco lamechas em que falam do falecido, música da Enya em background, familiares a enaltecerem-lhe as melhores qualidades, algumas fotos e filmagens de férias, etc. E, logo de seguida, toca de esventrar o homem em directo com facas de peixeira!

Pensem nisto, seus iluminados mediáticos...

4/28/2005

Os problemas da publicidade

Nos dias que correm, quem for ao cinema terá de aturar, para além da publicidade do costume, um anúncio que salienta a ilegalidade da pirataria.
"Você não roubaria um carro... você não roubaria uma mala...", assim reza a historieta, "A pirataria... blá... blá... blá...".
Dou a mão à palmatória e venho aqui revelar que - no meu caso pessoal - este anúncio se revelou de uma ineficácia retumbante.
Tão ineficaz e inútil que agora só consigo pensar em roubar a minha primeira mala e assaltar um carro pela primeira vez!
De facto, não há dúvida que a publicidade funciona.
Os resultados obtidos é que podem ser um pouco imprevisíveis.

Moral da história: dentro em pouco voltarei aqui para publicitar os meus primeiros assaltos! (a culpa não é minha: a televisão e os filmes é que são muito violentos...)

Pensem nisto, seus neo-humanos influenciáveis...

4/27/2005

O mundo a duas dimensões

Sempre que alguém me começa a relatar o sonho que teve na noite anterior, eu enrolo imediatamente o meu casaco/camisa/smoking (riscar o que não interessa) de modo a improvisar uma almofada de emergência.
Mas garanto-vos que o meu sonho de hoje foi tudo menos entediante.
Sonhei que tinha acordado num mundo completamente 2D. Ou seja, não havia profundidade. Esqueçam o 3D (ou 4D) em que vivemos. Éramos apenas planos e as nossas sombras projectava-se no chão de acordo com a geometria euclidiana.
Ao início ainda pensei "Fantástico! Isso quer dizer que já não preciso de fazer dieta. Já não pareço um balão visto de lado!". Mas a piada deu rapidamente origem a medo!
É que se o mundo passou a ser 2D, isso também devia querer dizer que passaria a ouvir som em mono. Afinal, se o som estéreo nos dá noção de profundidade e essa profundidade deixou de existir neste mundo, então o que isso significava é que toda a minha colecção de CD's ficou obsoleta de um momento para o outro.
Nesse momento vieram-me sons à cabeça. Flashbacks da minha mãe, na minha antiga casa, a pedir-me para lhe dar um motivo válido para alguém precisar de cerca de 500 CD's num armário.
E não soube dar um motivo válido.
Nesta situação, precisei admitir, a minha mãe tinha razão.
Se fosse um comum ouvinte, provavelmente não me faria a menor diferença. Mas sendo engenheiro de som por formação e gosto, esta situação tornou-se especialmente problemática.
E os medos revelaram-se verdadeiros. Subi pela minha rua acima, rua essa que agora não era mais do que duas linhas verticais paralelas e separadas por uma estrada plana sem subidas nem descidas.
Ora virava o ouvido direito para a frente, ora virava o esquerdo. E o resultado era sempre o mesmo. O som era igual, e a soma do que o ouvido direito ouvia com o que o ouvido esquerdo ouvia não era mais do que a soma do que o ouvido direito ouvia com o que o ouvido esquerdo ouvia. A mesma coisa, mas um pouco mais alto (6 decibéis mais alto, se quisermos entrar em preciosismos...). Já não havia profundidade, já não havia estéreo e muito menos surround.
Ao passar em frente ao Pingo Doce que se encontra à porta da minha casa, vi um segurança à tareia com dois ciganos. A cena era exactamente igual àqueles jogos 2D em que os bonecos só andam para a esquerda ou para a direita. Uma imagem horrível! Não sei se por sugestão, se por observação, mas pareceu-me até ver a imagem pixelizada!
E foi então que disse bem alto "Chega! Eu posso tolerar muita coisa! Até este 2D manhoso eu sou capaz de aguentar! Mas se há coisa que não aceito é uma imagem com baixa resolução num sonho meu!!".
O que será que motivou este tipo de sonho? Será a minha eterna aversão a tecnologias que não funcionam? Será efeito de ter passado a vida toda a mexer em botões de produtos electrónicos? Se a tecnologia faz parte de mim desde que nasci, talvez não seja muito disparatado encarar essa hipótese.
Mas nunca soube a resposta.
Levantei-me da cama com uma rapidez tal e, enquanto acreditava convictamente que nunca conseguiria colocar os chinelos àquela velocidade, já caminhava - calçado - para a casa-de-banho e a chegar a mão direita à genitália com uma facilidade quase instintiva.
"Minha nossa!", pensei, "ainda bem que o mundo ainda é em 3D. Caso contrário, como é que eu saberia se me sacudi novamente para fora da sanita ou não?".
Cá fora o sol radiava e despertava-me para um novo dia.
Nada de novo ou original.
Apenas um mundo profundo.
E com um som muito interessante.

Moral da história: esta parte da "Moral da história", por vezes, leva tanto tempo quanto toda a mensagem que sucedeu... Logo, deixo uma questão filosófica. O que terá mais qualidade literária? Toda uma mensagem que levou quinze minutos a escrever? Ou uma linha final que levou os mesmos quinze minutos?

Pensem nisso, suas vítimas da moda...


Final Fight.

Um exemplo de um clássico 2D nascido em finais dos anos 80

4/26/2005

Viagens no tempo

De acordo com o novo plano de apoio às novas tecnologias (UCPT), montes de empresas poderão vir a ser fiscalmente beneficiadas se investirem na integração entre a tecnologia de investigação e sua estrutura empresarial.
E como um benefício fiscal não é coisa de se deitar fora neste país, venho por este meio apresentar a minha nova empresa. Chama-se Time Travel.
Vai ser uma empresa especializada em viagens no tempo não intrusivas (VTNI). Confesso que ainda pensei em investigar formas de ajudar os tetraplégicos a andar novamente mas acabei por desistir. Achei que era um projecto um bocado parado! (Porra! Eu vou parar ao inferno por mandar piadas destas...)
As VTNI têm uma particularidade especial quando comparadas com as viagens no tempo fictícias a que os filmes nos habituaram. É que não é preciso ser um candidato ao Nobel da Física para se perceber que, se nos intrometermos no passado, obviamente alteraremos o futuro.
Por isso, é preciso arranjar uma forma de podermos apenas observar o passado mas sem mexer nele.
Imaginem se os espanhóis tivessem a possibilidade de voltar atrás e renegociar o Tratado de Tordesilhas! Com os políticos acolhoados que cá temos, o Brasil ainda era trocado por uns vales de compras no El Corte Inglés.
Na realidade, julgo que este plano é interessantíssimo do ponto de vista do avanço tecnológico do nosso país. É que, em termos científicos, o que falta aos nossos investigadores são apenas meios para alcançar fins. Com alguns subsídios a fundo perdido e incentivos fiscais vamos, sem dúvida alguma, tornar-nos num dos países mais desenvolvidos do planeta (e, quem sabe, do próprio Universo!).
É por isso que a Time Travel nunca viu a luz do dia. Faltavam-me meios. Mas a teoria está cá toda. Só preciso de uns cortes nos impostos para me decidir a construir o meu peep-show temporal. E agora parece que isso vai ser mesmo uma realidade!

Já agora, para os mais curiosos, passo a explicar como é que descobri como viajar no tempo. Afinal, como ainda ninguém sabe como o fazer e a actividade da UCPT foi anunciada para breve, é uma questão de tempo até toda a gente lá chegar. Não vale a pena tentar esconder descobertas científicas.
O processo é muito simples. Na realidade, é tão simples que até vou explicar como se fosse uma receita culinária.

Passo 1

Faça uma fita de Moebius. Trata-se de uma superfície de duas dimensões com um lado apenas. Assim, se caminharmos continuamente ao longo da fita, atravessamos ora uma, ora outra dimensão.
Faça a prova dos nove. Olhe para a imagem que se segue e imagine uma formiga a andar ao longo da fita. Como reparará, a formiga percorrerá toda a fita, ora aparecendo de um lado, ora do outro. E a única coisa que fez foi apenas andar em frente.



Fantástico, não? O matemático que deu o seu nome à fita deve ter utilizado um toalhete refrescante ou uma folhas de papel higiénico para chegar a este resultado.
Mas nós somos mais ambiciosos. Por isso, vamos usar a colcha de uma cama de casal.

Passo 2

Construída a sua fita de Moebius, que nesta altura ocupará metade da sua sala de estar (não se preocupe, pode sempre voltar ao presente uns minutos antes do seu marido chegar a casa e arrumar tudo no sítio), está na altura de instalar o módulo temporal.
Para isso, basta descobrir um coelho mecânico ou qualquer outro boneco de criança que se mova a pilhas.
E é aqui que damos uma abébia ao Einstein!
A teoria do dito cujo é de que qualquer matéria se transforma gradualmente em energia à medida que a sua velocidade se aproxima da velocidade da luz, numa proporção equivalente a E=mc2 (em que E é a Energia, m é a massa do objecto e c2 o quadrado a velocidade da luz).
Ora isto não passa de um puro disparate!
Para começar, se nada se move mais depressa do que a luz, então não faz sentido falar da velocidade da luz ao quadrado. E em segundo lugar, se a luz é apenas energia fotónica sem massa, isso significa que essa energia se dissipa com o tempo.
Mas como o nosso coelhinho mecânico vai levar pilhas Duracell, a sua energia vai durar muito mais tempo do que as previsões de Einstein.
Assunto arrumado.

Passo 3

Agarre então num relógio qualquer que possua em casa e amarre-o ao coelhinho amoroso. E ponha-o a andar por cima da fita de Moebius (dou uma beijoca a quem me explicar como é que se pronuncia o nome deste gajo!).
O coelho vai desatar a andar pela fita fora sem parar, e cada volta que ele der corresponderá a uma regressão de um ano.
Aconselha-se a não utilização de um relógio digital (tipo Casio) mas sim um relógio de ponteiros. Por nenhum motivo em especial. Apenas porque os relógios digitais são extremamente fatelas e não possuem a classe a que um viajante no tempo deve aspirar. Viajar no tempo com um relógio digital é o mesmo que aparecer no Praia Caffé, no Estoril, vestido apenas com uma camisola interior e a coçar o baixo tomatal por cima das cuecas. Não bate certo (e muito dificilmente arranjará mesa nessas circunstâncias. Mesmo que tenha feito reserva...).
Quando achar que o coelhinho deu as voltas correspondentes ao ano a que quer regredir, feche os olhos e expire todo o ar para fora dos seus pulmões (com toda a força que conseguir).
Se a energia do corpo humano não passa de uma decomposição de glucose no sangue e este é bombeado através do ritmo cardíaco que - entre outras coisas - pode ser controlado pela respiração, então expirar todo o ar significa tirar temporariamente toda a energia do corpo. Ora se a energia é igual a 0, de acordo com a fórmula de Einstein (à qual voltamos por conveniência) isso significa que a nossa massa é também igual a 0, pois a velocidade da luz é constante (E=mc2). Assim, sem massa corporal e sem qualquer energia (uma vez que não existe massa onde essa energia se possa aplicar), poderá então abrir os olhos e acordar na época pretendida. E não se preocupe com o presente. Pois se a massa do seu corpo for igual a 0, sendo 0 o elemento absorvente da multiplicação, isso significa que a velocidade da luz também vai ser obrigada a regredir para 0. Ou seja, o tempo parará no seu presente relativo, e assim você poderá apreciar a estadia no passado sem qualquer medo de que o presente "continue a acontecer" sem si.

Passo 4

Para voltar novamente ao presente, basta repetir o Passo 3 mas com o coelhinho a andar em sentido contrário.

É óbvio que o processo não é assim tão simples.
A marca do relógio, por exemplo, é muito importante.
Deverá ser um Swatch ou um Tissot?
E o coelhinho? Será uma versão cuidada do coelho da Duracell feita com amor e carinho por um artesão experiente e capaz? Ou uma imitação chunga comprada numa loja chinesa dos 300?
Há muitas coisas a ter em consideração para que estas viagens possam ser consideradas seguras e homologadas.
É por isso que a Time Travel vingará!

Moral da história: sr. Sócrates, venha daí esse cheque em meu nome!

Pensem nisto, seus caretas do presente...

4/22/2005

It's just a ride.

Nunca senti vontade de falar de alguém famoso sem o intuito de o devassar com um jogo de palavras qualquer.
Mas hoje vou fazê-lo.
Vou falar de Bill Hicks.
Talvez por ser um comediante que respeito; talvez por ter deixado um legado tão espectacular ao mundo do stand-up, mesmo apesar de ter vivido apenas 33 anos; ou talvez por ter tido uma vida mil vezes mais interessante que a minha e, por isso, sentir necessidade de sublimar a frustração da vidinha que levo.

Diz quem o conheceu que Bill Hicks tinha muitos defeitos.
Como não o conheci pessoalmente mas apenas vi os seus espectáculos e li a sua biografia, acho que o único defeito sério que ele tinha era ser americano.
Suficientemente mordaz para criar uma legião de inimigos na sua terra-natal. Suficientemente inteligente, sarcástico e amado em Inglaterra, a ponto do próprio parlamento comum inglês relembrar publicamente o aniversário da sua morte desde há dez anos para cá.
Não vou contar aqui a história dele, pois é para isso que servem os livros, CD's e DVD's disponíveis (uma busca rápida na Amazon dar-vos-á acesso a todas estas preciosidades).
Gostaria apenas de prestar a minha homenagem àquele que foi um dos comediantes mais hardcore de todos os tempos.
A Humanidade precisa de pessoas assim. Precisa de radicais que abram o caminho e que estiquem os limites das fronteiras daquilo que é possível fazer.
Só assim todos os restantes saberão onde podem chegar.
E Bill Hicks ensinou a todos que o humor não deve ter fronteiras e que se deve falar daquilo que bem se entender.
A título de exemplo, Hicks foi o primeiro a ridicularizar a Guerra do Golfo (versão 1.0) numa altura em que comediante algum se atrevia a voltar-se contra a administração de Bush sénior.
E quando achou que os conservadores cristãos mereciam ouvir uma coisa ou duas, Hicks não se inibiu de relatar aquilo que realmente achava da religião e dos religiosos. Idem idem, aspas aspas, para a sua relação com as mais variadas drogas, umas vezes utilizadas por propósitos didácticos, outras vezes por propósitos criativos.

Em Portugal a história é diferente.
A tradição da comédia no nosso país tem-se baseado na Revista à Portuguesa. Nunca existiu, tirando aqueles deliciosos discos antigos do Raúl Solnado, uma filosofia de stand-up dentro das nossas fronteiras.
Isso começa agora a aparecer com o Levanta-te e Ri e, não obstante a qualidade duvidosa da maior parte dos comediantes que lá figuram (alguns deles nem são comediantes mas meros contadores de anedotas), a verdade é que precisamos admitir que programas como esse são um passo em frente. A comédia, tal como nos Estados Ónidos ou Inglaterra, é algo que deveria ser levado a sério (por paradoxal que possa parecer).
Isto é especialmente interessante porque Portugal até é um país com uma tradição humorística muito rica.
Podemos regredir muito ou pouco no tempo, e encontraremos sempre provas literárias que nos demonstram que o humor foi um ponto de passagem obrigatória na vida de quase todos os nossos escritores.
Se começarmos no séc. XVIII, por exemplo, temos Barbosa de Bocage ("Aqui dorme Bocage, o putanheiro: passou vida folgada, e milagrosa: comeu, bebeu e fodeu sem ter dinheiro." in Poesias eróticas, burlescas e satíricas).
Quem diz Bocage diz Almeida Garrett (O Retrato de Vénus), António Maria Eusébio (A Quinteira da Panasqueira), ou mesmo Camilo Castelo Branco. E porquê parar por aqui? Dezenas e dezenas de outros escritores poderiam ser mencionados. Guerra Junqueiro, Cesário Verde, Eugénio de Castro, Augusto Gil, o grande Fernando Pessoa (Epithalamium), Almada Negreiros, Jorge de Sena, Alexandre O'Neill, Luiz Pacheco, José Vilhena.
Todos eles dedicaram uma parte da sua vida à escrita de humor.
No caso especial de José Vilhena, com o qual tive o prazer e privilégio de conviver durante uns tempos, pode-se até dizer que ele foi a única força independente que ainda hoje mantém uma dedicação ímpar à imprensa escrita humorística. A sua revista - que já mudou de nome de várias vezes (Gaiola Aberta, Fala-barato, O Cavaco, O Moralista, e agora novamente A Gaiola Aberta) - é hoje, por estranho que possa parecer, a única revista humorística nacional.
José Vilhena é, na minha modesta opinião, o Bill Hicks português da geração passada.

E agora? Quem será o novo Bill Hicks que tirará este país de uma miséria intelectual imitativa do que se faz lá fora e explorará o lado mais vicioso das mentes portuguesas?
É que, admitamos, nós portugueses temos qualquer coisa de especial. Não sabemos bem que porra é, mas sabemos que temos qualquer coisa que o resto do mundo não tem.
E enquanto não acordarmos deste complexo de inferioridade que nos mantém numa espécie de coma criativo, enquanto não nos libertarmos daquele jeitinho idiota que temos de achar que lá fora é que se encontram as grandes cabeças, enquanto não mudarmos a nossa orientação de modo a incluir os bons valores que cá temos em vez de os rejeitar automaticamente, não estamos a dar hipóteses a que este novo "Hicks" apareça.

Moral da história (repetido): às vezes estamos tão perto da floresta que não vemos as árvores.

Pensem nisto, cambada de génios incompreendidos...

4/21/2005

Poesia Spâmica

Há uns tempos pús-me a pensar se todo o Spam que recebo por email poderia ser aproveitado de alguma forma.
Afinal, vivemos na era da reciclagem. Deve ser possível fazer alguma coisa com toda a (des)informação inútil e não solicitada que recebo diariamente.
Por isso, desatei a coleccionar Spam numa pasta própria (ora aqui está algo que não deve haver muita gente a fazer. A não ser aquelas pessoas realmente solitárias...).

Tenho então o prazer de apresentar a primeira poesia inteiramente baseada em Spam recebido por email!
Se alguém achar que a qualidade poética da coisa não está em conformidade com os mais altos standards literários, lembrem-se que as frases não são minhas. Foram apenas traduzidas e reaproveitadas.

Spam, meu querido Spam
by W.W.W. Toscano

Notificação do estado da entrega: fracasso!
Agora com a nossa super-promoção,
Vendemos drogas, bebidas e tabaco.
Não perca esta excelente oportunidade!

Temos remédios para ficar mais magra,
Impressora a laser por 100 euros?
Inscreva-se já no nosso site,
Ganhe dois pacotes de Viagra.

Toshiba a preços pequeninos,
Modem wireless em sua casa.
Memórias para Macintosh online,
Cialis, Levitra e Viagra.

Preciso da sua ajuda,
Tenho milhões para partilhar,
O meu pai era o Savimbi
E eu não os posso levantar.

O Apocalipse está próximo!
Somos uma carta no baralho.
E esta última da minha autoria
Manda os spammers pró car...

Moral da história: leia este blog regularmente e ganhe prémios fantásticos!

Pensem nisto, seus milionários aviagrados...

4/20/2005

Tetris




Estava eu entretido com um jogo de Tetris no meu telemóvel enquanto esperava para ser ouvido pelo juiz quando se fez luz na minha cabeça! A nossa vida é, aparentemente, similar a um jogo de Tetris!
Ora vejamos, tal como na vida real, os nossos dias são passados a tentar encaixar peças no lugar. Manejamos aquelas peças que sabemos, tentamos manejar outras de modo a controlar minimamente o curso da nossa vida. Há dias que correm melhor que outros, tal como as jogadas que fazemos no Tetris. Há dias em que tudo corre horrivelmente mal, mas sabemos que no dia (jogada) seguinte talvez a coisa se componha. Há até dias em que tudo parece correr bem e, surpresa do acaso, levamos com uma daquelas peças nojentas que não encaixam em lado algum! Mas tudo bem, pois a experiência ensina-nos que, naquelas alturas em tudo parece correr mal, lá aparece uma daquelas tábuas de salvação que resolvem vários problemas de uma assentada só.
Para além disso, se quisermos partir para o plano sexual, podemos até admitir que a sexualidade humana se baseia na questão de encaixe ou recepção de peça. Sem qualquer juízo de moral, a verdade é que uns gostam de encaixar, outros gostam de receber. Sejam homens, mulheres, homens com homens ou mulheres com mulheres (sim, porque existem toda uma gama de produtos no mercado - para não falar de dez dedos em duas mãos - que podem ser utilizados para preencher qualquer lacuna tetriana em qualquer dos sexos). Aqueles que não gostam de uma coisa nem de outra estão, pura e simplesmente, afastados do jogo.
Por isso, estou firmemente convicto de que o Tetris é um jogo viciante porque é muito parecido com a vida humana.
E jogar Tetris, consequentemente, é um treino activo para a vida.
(foi esta a melhor desculpa que encontrei para ter trocado a minha leitura de casa-de-banho por um jogo de telemóvel)

Moral da história: apesar do Tetris ter nascido em 1985, as estatísticas indicam que é o jogo que mais gente joga em todo o mundo.

Pensem nisto, seus jogadores tetrificados...

4/19/2005

Stop, please, no!

Agradecia a todos os leitores mais ávidos do DQD, vulgo fanáticos, que se coibissem de me enviar emails inquirindo quando o site/blog serão actualizados.
Se não tenho escrito nada, é porque nada de interessante se passa no mundo para comentar...

É claro que o facto de ter passado quinze dias fora de Portugal a recuperar de um estado de depressão profunda - motivado pelo meu trigésimo aniversário - contribuiu para que não me chegasse perto do computador.
Mas tudo bem. Conformei-me com a realidade.
Já tenho uma máquina de hemodiálise instalada no meu quarto, com tomada USB e tudo (óptimo para imprimir relatórios horários numa impressora a laser antiga que encontrei na arrecadação).
Também já comprei algumas placas dentárias na loja chinesa que se encontra em frente à minha casa (até saem mais baratas se forem compradas em pacotes de dez!).
E ando a namorar as cadeiras de rodas motorizadas no site da BMW, embora as cadeiras de rodas da Mercedes também sejam muito interessantes e possuam um binário mais equilibrado a baixas rotações.

Adiante, que o tempo é curto, vamos ter um papa novo, eleições autárquicas e presidenciais, um Verão de queima extrema após um Inverno de seca extrema, cerca de 2000 novos mortos nas nossas estradas, algumas dezenas de novos programas dedicados ao futebol, novas telemerdo-novelas da TVi e a descoberta de um filão de petróleo gigantesco por baixo de todo o Alentejo (não me lembro se sonhei com esta última ou se a imaginei sob a influência de drogas. Só sei que me pareceu uma boa ideia na altura...). Ou seja, nada de interessante para comentar.
Até que me ocorreu que talvez fosse boa ideia convencer os políticos a organizarem comícios partidários e propaganda eleitoral com base em musicais originais!
E porque não?
Na minha opinião, uma imagem do Santana Lopes vestido de arlequim, aos saltos (numa clara alusão ao seu percurso político) e a cantar a "Água fria da Ribeira" seria impagável!
Então e o Rui Rio mascarado de adepto do Porto no meio de um palco, a cantar o hino do FCP, enquanto que o resto dos autarcas entram, em coro, no palco, vestidos de Francesinhas e Tripas?

Se se quer maior envolvimento do cidadão na política para evitar - entre outras coisas - níveis elevados de abstenção, então a política tem de se tornar muito popular.
E acho que transformar as campanhas eleitorais em musicais e espectáculos de comédia em que os políticos fariam, literalmente, de palhaços, seria uma forma estupenda e quase terapêutica de o conseguir.
Obviamente que isso não chegaria.
Os políticos poderiam ser convidados para programas e concursos de televisão, como o Um contra Todos, por exemplo. Por mais que me tente lembrar de nomes sonantes da política nacional, só consigo imaginar Santana Lopes sentado naquela cadeira. Só que funcionaria ao contrário. Os concorrentes é que fariam perguntas - algumas difíceis - a Santana, como por exemplo "Sr. Santana Lopes, já que a Biblioteca Nacional possui acessos internos para deficientes, porque é que é necessário galgar uma calçada de meio metro de altura para conseguir lá entrar?" ou "Sr. Santana, lembra-se daquele buraco na Praça do Comércio que entretanto se transformou numa cratera? Claro que se lembra, pois até você já lá fodeu uma roda do seu Mercedes. Quando é que tenciona reparar esse buraco de forma a poupar os carros dos cidadãos? Está à espera que um asteróide faça o trabalho por si?". E o Santana, coitadito, sem saber o que dizer, ia-se afundando na cadeira (sim, porque nesta edição especial do Um contra Todos a cadeira baixar-se-ia, em vez de se elevar). A presença de Carlos Malato seria desnecessária, pelo que ele poderia voltar a apresentar o Top +, deixando assim algum tempo livre ao filho do Carlos Mendes para tentar salvar a discoteca Fama de uma falência quase certa (segundo informação que corre por aí).

Inúmeras outras iniciativas poderiam tomar lugar. O ponto fulcral a manter em mente é que a política tem de se tornar mais popular. Só assim se conseguirá evitar a abstenção, uma vez que os portugueses são estúpidos demais para se darem ao trabalho de ir às urnas colocar uma cruzinha e ter alguma mão no futuro do seu país.

Por outro lado, talvez isto seja uma ideia completamente idiota.
Deve ser a Incerteza dos 40 (para os quais já estou a caminhar...), qual êxito estrondoso do Paco Bandeira.

Moral da história: se a História não tem moral, porque é que há-de haver moral na história?

Pensem nisto, seus azimutes compassados...