2/24/2005

O nono mês

Prefere navegar com as fuças mergulhadas no rio em vez de se encontrar sempre à margem? Leia as mensagens anteriores ("Oitavo mês", "Sétimo mês", ... , "Primeiro mês" e "A Sorte Grande") e fique por dentro do contexto!
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O nono mês do resto da minha vida seria dedicado a um projecto que sonho concretizar desde os meus tempos idos de menino.
Pergunta: qual é a relação entre uma bola feita de papel de alumínio ou prata e a visualização do fundo do rio Tejo a olho nu?
Ai, minhas amigas, (fazer aquele ar apaneleirado do Manuel Luís Goucha) eu acho que existe uma relação muito estreita! Mas existe.
Quase toda a gente utiliza papel de alumínio para a conservação de alimentos, dentro ou fora do frigorífico. Estatisticamente, cerca de 76% da população portuguesa activa afirma comprar regularmente rolos de papel alumíno, sendo que 34,3% desses 76% chega mesmo a comprar dois ou mais rolos por mês. Na realidade, estas estatísticas foram inventadas agora mesmo. Mas ouvi dizer num programa qualquer que quando se introduzem estatísticas e percentagens num discurso, cerca de 91% das pessoas dão mais credibilidade à informação...
Bem, como eu dizia, com uma quantidade tão grande de gente a utilizar papel de alumínio, porque não organizar uma recolha monumental dos restos, amachucá-los e enrolá-los sobre si próprios, criando uma bola colossal capaz de envergonhar qualquer organizador olímpico?
Essa bola seria, então, largada do topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa, e rolaria pela Avenida da Liberdade abaixo, dirigindo-se velozmente em direcção ao Tejo. Com grande cobertura mediática (ocorre-me que talvez até consigamos esmagar alguns repórteres da TVi...), o percurso da nossa bolita seria seguido e aplaudido por milhares de cidadãos à medida que se deslocaria em direcção ao Rossio, com transmissão para todos os canais televisivos, nacionais e internacionais.
No final do percurso, a DQBola afundar-se-ia estrondosamente nas águas no Tejo, provocando uma vaga gigante capaz de reduzir o tsunami asiático a uma simples onda numa piscina de periquitos.
O fundo do Tejo ficaria sem água (pelo menos durante um bocado), o que nos deixaria observar aquilo que realmente lá se encontra (como a entrada secreta para a base espacial extraterrestre que existe desde os tempos da padeira de Aljubarrota e cuja existência o governo teima em negar).
Juntamente com isto, transformaríamos toda a margem Sul até à Arrábida num complexo subaquático, o que só auferiria vantagens para os lisboetas:

1. O trânsito matinal nas pontes deixaria de existir, uma vez que os cidadãos da margem Sul passariam a usar meios de transporte como batiscafos e submarinos (já que Portugal estoirou tanto dinheiro nestas merdas, porque não utilizá-las para uma boa causa, criando assim um novo passe subaquático para os cidadãos margem-sulistas?);

2. O alagamento brutal da Margem Sul de Lisboa significa que a Arrábida passaria a ter uma linha costeira muito maior, transformando-a, efectivamente, numa península. Isso não só ajudaria a auferir grandes receitas turísticas, como facilitaria o combate aos incêndios em alturas de Verão, pois haveria mais água prontamente disponível para ser bombeada para os diversos carros (barcos?) de bombeiros;

3. As vantagens científicas e arqueológicas também seriam imensas! Investigadores de renome poderiam então organizar sessões arqueológicas de mergulho (o que ajudaria também a economia do sector de vendas de produtos de diversão aquática), ajudando-os a estudar em primeira mão, e por métodos comparativos, a formação da cidade de Atlântida (por exemplo);

E pensar que tudo isto poderia ser conseguido através da simples reciclagem de papel de alumínio...

Moral da história: a reciclagem é uma coisa bonita e nós gostamos muito.

Pensem nisto, seus recicladores aço-inoxidados...

2/23/2005

Uma vida...

O sangue corria-lhe nas veias. Era fluido, forte e cheio de sonhos.
Agora é apenas uma lembrança fel de um homem que ambicionou ser melhor.
A energia escorria para fora dos seus poros como gelado derretido no topo de um cone de bolacha.
Era difícil pará-lo, segundo consta.
Agora, está parado. E o mundo passa por ele.
Não deixa de ser uma forma engraçada de olhar para a vida. Uma espécie de carrocel onde nos apeamos, damos a nossa voltinha, e proporcionamos a vez a outros.
Assim, o mundo não é mais que um parque de diversões gigantesco. Cheio de voltinhas diferentes para dar.
Elegemos a nossa diversão, sabendo que o dinheiro não vai chegar para tudo. Embarcamos no que nos parece uma solução, plenamente conscientes que nunca conheceremos todas as outras. E no momento em que tomamos uma decisão, parte do universo morre. E os seus fantasmas perseguem-nos.
Somos constantemente perseguidos por auras aparentemente inócuas de realidades que não aconteceram.
Decidimos viver numa apenas. Carregamos connosco todas as outras.
Não desejos. Não frustrações. Não arrependimentos.
Apenas saudade dos futuros que nunca aconteceram.

Para João Carlos Toscano Westwood, 47 anos, médico, professor universitário, empresário, pai, marido, filho, meu primo, artista da vida, fonte de uma energia que decerto não se esgotará com a sua morte.

2/21/2005

Um breve apontamento...

Agora que o PS conseguiu a maioria absoluta que pretendia, com todas as vantagens e desvantagens que isso implica, parece ser notória uma melhoria imediata das condições de vida dos cidadãos. O primeiro sinal disso é a alteração climatérica que se está a fazer sentir, com promessa de chuva para o dia de hoje.
Acabou-se o controlo do clima por parte da direita, cujos únicos beneficiários eram os lóbis turísticos e hoteleiros.
Parece que, finalmente, o interior vai receber alguma água para as suas necessitadas plantações.
A continuar assim, este novo governo está - sem dúvida - a fazer a caminha para uma nova maioria absoluta daqui a 4 anos.

Moral da história: ...e depois ainda me dizem que eu é que sou um teórico da conspiração!

Pensem nisto, seus conspiradores conspurcados...

2/16/2005

O oitavo mês

Não fique para trás! Leia as mensagens anteriores ("A sorte grande", "Primeiro mês", "Segundo mês"... etc.) para se situar no contexto.
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A minha vida está a chegar ao fim.
Com dois milhões de euros mensais para gastar, alguém tem alguma dúvida de que o tempo passaria realmente depressa?
Acho que estaria então na altura de apostar em inovações que trouxessem alguma variedade realmente interessante ao nosso planeta. Estou a falar, como se torna claramente óbvio, da mutação genética de seres humanos com vista à criação lobisomens e vampiros.
E se isto parece, como dizem os ingleses, um pouco far fetched, não acho que seja uma meta assim tão inatingível. Repare-se, estão a vir ao de cima notícias de países conservadores, como a Inglaterra, que começam a permitir a clonagem de embriões humanos. Parece-me ser a altura ideal para contratar alguns cientistas desempregados e equipá-los com laboratórios dotados da mais elevada tecnologia coreana de ponta. Se eles não conseguirem mexer aqui e acolá nos genes humanos, quem mais conseguirá criar vampiros e lobisomens?
É claro que isto seria apenas uma parte do jogo.
Como todas as pessoas sabem, pelo menos aquelas que consomem cinema e ficção regularmente, os vampiros e os lobisomens são antigos inimigos, qual Nosferatu dentudo a tentar mordiscar o pescocinho de um Michael Jackson peludo. Um uiva despropositadamente, nas noites de lua cheia, do cimo de um monte. O outro esvoaça, como uma águia dopada, de um castelo no meio de nenhures para sugar a hemoglobina vermelhusca que constitui a sua dieta alimentar. E por algum motivo, não se suportam um ao outro.
Vamos então explorar esse inexplicável ódio milenar e usá-lo para nos divertirmos um pouco, uma vez que ainda faltam alguns aninhos para as próximas eleições presidenciais norte-americanas.
E com a criação de arqui-rivais com faculdades sobre-humanas tão interessantes, porque não criar também algumas casas de apostas dedicadas a lucrar um pouco com as fantásticas lutas que observaríamos diariamente?
Uma espécie de Totobola, provavelmente patrocinado pela Santa Casa da Misericórdia, em que os lobisomens e os vampiros estariam dispostos por diversas divisões, nacionais e internacionais. Toda uma indústria se criaria em torno do fenómeno! E aqueles que não se sentem minimamente atraídos pelo desporto poderiam agora ligar a televisão à hora do Domingo Desportivo sem medo de se terem de contentar com a programação abjecta dos restantes canais nacionais.
É claro que, com a criação de um empreendimento desta envergadura, todos as entidades e mecanismos que suportam a indústria desportiva humana teriam a tendência de se virar para este novo meio. Pelo que não tardariam a aparecer agentes desportivos, treinadores especializados (com e sem bigode), equipas diversas com laboratórios de tuning desportivo associados (para aumentar ainda mais as capacidades dos jogadores em questão), comentadores inflamados e toda a restante escumalha que normalmente orbita em torno da indústria do desporto.
Alguém está a imaginar um comentador desportivo como o Gabriel Alves a relatar uma eliminatória final?

E estamos então na prova final! Os Nosferatus do Chelsea esvoaçam vigorosamente por cima dos Lobisomens Sportinguistas... e... e é mais um pescoço mordiscado pelo avançado Zorglub do Chelsea! Desta vez foi o Paulobo açoreano a sofrer a escoriação. A equipa nunca esperou muito dele, verdade seja dita. Mas esperem! Zorglub cai no relvado entre o castelo e o fosso de lava! Que será que se passou? Sim!!! Sim!!! Os Lobisomens Sportinguistas demonstram, mais uma vez, a sua elevada performance táctica! Infectaram o sangue de Paulobo com o vírus da Sida!! E quem disse que os afectados pelo vírus não conseguem ser úteis para a sociedade? Os Lobisomens Sportinguistas ficam sem Paulobo, mas os Nosferatus do Chelsea perdem o seu mais precioso avançado Zorglub! Eu não me quero adiantar, pois ainda faltam três dias para a prova terminar, mas parece-me que os Lobisomens já levam uma estupenda vantagem sobre os Nosferatus! Zorglub está fora, e o treinador da equipa já colocou o médio-avançado Van Zant em exercícios de aquecimento! Sabemos que Zorglub não lhe pode passar o seu legado de sangue, pois está infectado. O que será que os Nosferatus têm na manga? Ou melhor, na gola do sobretudo? Entretanto, a claque dos Lobisomens provoca a claque dos Nosferatus, fazendo a dança do alho-ao-pescoço. Os Nosferatus respondem enfurecidos disparando very-lights com tinta de prata para a bancada dos Lobisomens. É uma cena deplorável! Até o Grande Conde Drácula que se encontra na bancada VIP, também conhecido como o Vampiro Negro, acena negativamente com a cabeça em jeito de discordância.

Moral da história: o ser humano tem de aprender a ser solto, liberal e permissivo. Só quando se abre mão de ideais empedernidos é que se pode abraçar a variedade que é o motor da excitação humana mais profunda. Quem nunca imaginou modificar geneticamente humanos para criar seres fantásticos de modo a gerar toda uma indústria desportiva que atire a primeira pedra!

Pensem nisto, seus desportistas mentecaptos...

2/15/2005

A título de curiosidade...

...alguém faz ideia do que é que está envolvido na criação de um partido político?
Eu calculo que seja necessário criar e estabelecer estatutos, propondo-os de seguida a algum organismo.
Mas o meu conhecimento da matéria começa e acaba aqui.

Se alguém conhecer os mecanismos legais do processo, por favor entre em contacto connosco.
Ocorreu-me que seria interessante criar um partido político nosso "O Partido Humorista Português", apenas para ver se passa ou não...
E será um partido realmente democrático, onde todas as opiniões que forem para aqui enviadas serão consideradas!

Moral da história: já aconteceram coisas mais estranhas neste país...

Pensem nisto, seus politiqueiros desvirginados...

Uma experiência sociológica (Sétimo mês)

Há fenómenos que sempre considerei interessantes em vésperas de eleições em Portugal. É a adopção dos modelos ou formatos de campanha por parte dos partidos.
O PSD parece ter adoptado o formato americano de "lógica dinâmica cruzada", onde se denota um profissional trabalho de equipa e de consultoria de imagem. Por um lado tentam denegrir a imagem do concorrente mais forte (atirando com as culpas para cima da JSD), por outro tentam surgir como o cavalo branco da salvação da pátria. Estão a imaginar as sessões de fotos em que os candidados têm de posar a pensar que vão aparecer em cartazes?

- Sr. Santana - diz o fotógrafo - vamos lá então fazer uma carinha bonita. Não, sr. Santana! Tem de ser uma carinha inocente... - o fotógrafo desespera - Que é isso, sr. Santana?! Tire lá a mão dos lábios que isto não é um anúncio da Martini! Faça uma cara i-no-cen-te! Lembre-se da cara que fez quando achou que iria mandar em Portugal durante mais uns tempos e o sr. Jorge Sampaio lhe fez que não com o indicador...

O PS, por sua vez, baixa as orelhas e come no focinho, acomodando-se no conforto de saber que, mesmo que deixasse de fazer campanha até às eleições, provavelmente ainda assim daria uma valente coça ao PSD.
E depois temos os jogadores secundários. O CDS tenta abraçar a classe média num momento em que esta mergulha num buraco sem paralelo, o que não deixa de ser bem visto. E a CDU, como sempre, agarra-se ao fosso existente entre os mais ricos e os mais pobres, sabendo perfeitamente que no dia em que esse fosso deixar de existir também o seu partido mergulhará na mais profunda crise.
O Bloco de Esquerda lá nos continua a matraquear a cabeça com ideais e standards de vivência modernos e interessantes, embora completamente desadaptados da nossa realidade nacional. E eu pensava que o BE tinha os direitos de antena mais engraçados, até ter visto as campanhas televisivas daqueles partidos mais obscuros, como o Partido Humanista e o Partido da Nova Democracia. Mas isto são temas para outras conversas...

Então, em que é que consistiria a tal experiência prometida no tema desta mensagem?
Na manipulação de variáveis para a construção do formato de campanha "Diz Que Disseiro".

Em primeiro lugar, mexer-se-ia na variável de atenção mediática, roubando tempo de emissão e importância aos partidos envolvidos na corrida.
Como? Alugando todos os outdoors e cartazes publicitários pelo país fora e imprimindo a mensagem "No dia 20 de Fevereiro, GOLPE DE ESTADO EM PORTUGAL! Participe! Faça parte da revolução! Junte-se ao DQD!".
É irrelevante a organização ou não de uma tentativa de golpe de estado. O que interessa é roubar a mediatização e deixar toda a gente a falar deste suposto evento. Isto reduziria qualquer esforço de atenção dos partidos políticos a uma mera campanha de mercado de peixe.
Depois, o DQD contrataria actores de várias idades, raças e escalões sociais, e criaria anúncios de elevado gabarito para serem passados em outdoors electrónicos, sites na internet, televisão e também alguns canais obscuros da TV Cabo.
"Olá. O meu nome é António, tenho 22 anos, não consigo arranjar emprego. Eu apoio o DQD no Golpe de Estado de dia 20 de Fevereiro! Junte-se a mim e faça parte da revolução".
Enquanto os políticos roçariam as nádegas apertadas nos assentos dos seus BMW's, comentadores televisivos e cronistas da imprensa desdobrar-se-iam em críticas aos autores do DQD, alegando que semelhante tentativa de desvio de atenção das eleições poderia até ser considerada criminosa, anti-constitucional, etc. e tal.
Dois dias antes das eleições, os cartazes de apelo ao golpe de estado dariam uma volta surpreendente.
Actores, músicos, figuras mediáticas, nacionais e estrangeiras, apelariam então ao voto em branco. Um slogan possível? "O país está numa situação NEGRA! O DQD é um site a preto e branco. Neste dia 20, vote branco no preto. Não eleja partido algum!".
Portanto, a experiência consistira em saber até que ponto é que um esforço mediático de contra-informação seria capaz de alterar a consciência pública, levando-a a não decidir coisa alguma, em vez de escolher uma das opções disponíveis (como costuma acontecer). Não percebo muito de ciência política mas, a meu ver, se compararmos os valores projectados de abstenção no início de uma campanha com os valores finais, acho que podemos ter uma noção da eficácia deste processo.
Seria este o modelo Diz Que Disseiro de campanha. O apelo ao voto em branco como forma de protesto pela situação nacional em que vivemos.

Moral da história: o mais assustador é pensar que, provavelmente, uma coisa destas até funcionaria no nosso país, dado o elevado nível de abstenção...

Pensem nisto, abstencionistas imundos...

2/08/2005

Extra! Extra! Grande furo jornalístico!

O DizQueDisse conseguiu um enorme furo jornalístico! Depois do anúncio de não participação de Alberto João Jardim no corso carnavalesco, o DQD descobriu que desta vez ele não se iria mascarar de coelhinho da Duracell e tamborilar madrugada dentro. No corso carnavalesco madeirense de 2005, o presidente do Governo Regional iria desfilar integrado na ala Matrafona. Apresentamos aqui, em exclusivo universal, a fantasia que Alberto João Jardim iria utilizar...

Matrafona StaClone

2/01/2005

Colos Eleitorais

O PCP está preocupado porque não sabe como é que o povo vai votar se só dois partidos é que entram em debate. Esta é apenas uma de entre muitas questões levantadas sobre o nosso sistema eleitoral. Eu gostaria de levantar outra: porque é que não deixamos de votar por círculos eleitorais, e votamos por colos eleitorais? Podíamos ir além do colo gay, para o colo dos empreiteiros, o colo dos advogados, o colo dos dirigentes desportivos, o colo dos pedreiros livres, o colo dos autarcas, o colo dos actores de revista, o colo,... Isto dos colos é como as cerejas, e Portugal não é país que se negue colo.

O sexto mês

Fique informado sem ter de comprar um único jornal! Leia as mensagens anteriores ("A sorte grande", "O primeiro mês", "O segundo mês", "O terceiro mês", "O quarto mês" e "O quinto mês"). Porquê ser arrastado pela rebentação da onda quando pode andar na crista?
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Quem é que não acha que está na altura de Portugal possuir um jogo de computador? Refiro-me a um jogo de computador de primeiro galardão, produzido pelas mesmas empresas que nos deram espectaculares jogos como o Doom, Gran Turismo, Getaway, etc.
Por isso, após a rápida abertura de um pequeno concurso entre diversas empresas do sector, o vencedor ganharia a oportunidade de produzir um jogo talhado para a realidade lusa.
E quando falo em primeiro galardão, refiro-me a um jogo que misture todas as qualidades dos melhores títulos existentes a nível mundial, com algumas interessantes adições. Seria uma mistura de jogo de acção, condução automóvel a alta velocidade, tiroteio na primeira pessoa e intricada estratégia.
Seria o Portugal Real!
O personagem desse jogo chamar-se-ia Tó Zé Cunha (TZ Cunha).
E eis as missões nas quais toda a acção se repartiria.

Plano e informação

Após uma introdução animada em que se demonstraria porque é que TZ Cunha se passou da cabeça ao ter tentado – sem sucesso – falar com um ser humano inteligente na linha de apoio da Telepac, a acção começaria.
A primeira missão de TZ Cunha: entrar numa Loja do Cidadão qualquer e tentar efectuar contratos de electricidade, telefone, áqua, gás e internet para a sua casa nova, sob um nome falso. A parte do nome falso é a mais simples, pois TZ Cunha começaria o jogo com um crédito de 1500 euros. Isso permitir-lhe-ia obter um bilhete de identidade falso em envelope lacrado, com cumprimentos especiais da embaixada de Portugal em Londres. O problema é que a sua missão será contra-relógio! Apenas terá quatro horas para todas estas tarefas. Logo, terá de se movimentar habilmente entre todas as máquinas de senhas dos diversos departamentos da Loja do Cidadão, retirando por vezes alguns números consecutivos e sempre garantindo que não lhe passem à frente. Pelo caminho encontrará pessoas que chegam aos balcões de senha na mão e com quatro números de atraso, que apenas lá estarão para lhe dificultar a missão.
Na versão mais difícil de “jogabilidade”, metade dos funcionários encontram-se na conversa junto às máquinas de café, tornando todo o processo ainda mais moroso (como na vida real, portanto).
Se completar a tarefa com sucesso, TZ Cunha terá de comprar uma chave de um automóvel a um arrumador que se encontra em frente à loja do Cidadão. Trata-se da chave de um carro cujo dono deixou inadvertidamente cair enquanto lançava as mãos aos bolsos para procurar alguns trocos.

A fuga rápida

É nesta parte que o jogo se transforma numa cena de acção urbana de alta velocidade.
Montado num Subaru azul metalizado, TZ Cunha terá então de se dirigir ao seu novo apartamento onde – reina a ficção – já terá a electricidade e a internet ligada. Porém, ao perceber que está a ser roubado, o dono do carro chama a polícia. Polícia essa que, apesar de nunca parecer estar presente na altura em que os crimes realmente ocorrem, perseguirá TZ Cunha com uma ferocidade nunca antes vista. As cenas de perseguições pela cidade de Lisboa serão providas de um realismo extremo! Todos os buracos que existem nas estradas e que a câmara já prometeu tapar há anos estarão lá representados. E por cada um que TZ Cunha passar, perderá alguma velocidade (podendo ser apanhado pela polícia).
Se conseguir chegar a casa impune e despistar a polícia, TZ Cunha ganhará mais créditos e acercar-se-á do seu computador ligado à net. É aqui que começa a parte de estratégia do jogo.

A estratégia

Portanto, neste momento TZ Cunha será um fugitivo. E não demorará até que o alvoroço criado em frente à Loja do Cidadão atraia a curiosidade dos funcionários, fornecendo estes toda a informação necessária à polícia.
Pelo que TZ Cunha apenas possuirá cerca de trinta minutos para desenvolver uma estratégia de fuga do seu apartamento antes que a GNR lhe bata à porta.
Esta parte do jogo assemelhar-se-á ao conhecido jogo de estratégia Sim City. Neste caso, será o Lisboa City.
TZ Cunha terá de estudar os mapas da cidade e preparar a sua fuga para Espanha. Pelo caminho, terá ainda de passar na Assembleia da República e assassinar um membro de cada grupo partidário. Uma forma de deixar uma mensagem de descontentamento ao estado português.
Um problema: a maior parte dos mapas da cidade de Lisboa estão desactualizados. Por isso, para cada fuga que TZ Cunha estudar, terá de conceber igualmente uma fuga alternativa, não vá o diabo tecê-las.
E voltamos à parte automóvel do jogo.

Missão: Assembleia da República

Ao sair da sua nova casa, na Zona J de Chelas, TZ Cunha terá de fazer contactos com os mafiosos locais com vista a adquirir algumas armas e um novo automóvel que não chame a atenção da GNR. Quantos mais créditos possuir dos níveis anteriores, mais armas e equipamentos poderá comprar.
E dirigir-se-á, então, à Assembleia da República.
Possuirá apenas cinco minutos para o fazer, pelo que terá de ir depressinha. Porquê? Sei lá! Alguém compra um jogo de acção para andar devagar?

Ao chegar à Assembleia…

É aqui que o jogo se transforma num shoot ‘em up passado na primeira pessoa. Munido de potentes armas e, tal como em todos os jogos, podendo perder tempo para as trocar, TZ Cunha tentará entrar na Assembleia com vista a assassinar os dirigentes de cada partido. Esta tarefa encontra-se dificultada, uma vez que às portas da Assembleia está também a ocorrer uma manifestação da Inter-sindical com centenas de militantes de cartaz em punho. Ao vê-lo chegar com tantas armas agarradas ao corpo, o aparato policial que se encontra à porta entra em sobressalto (sejamos realistas, todo o armamento tem de estar à vista: ninguém possui bolsos suficientemente grandes que permitam esconder carradas de armamento. A não ser que se use um sobretudo de lycra, claro, o que levará a polícia a desconfiar porque é que alguém andará com um elefante escondido dentro do fato… Mas isso é outra história…). E aqui começará a verdadeira acção bélica! O nosso herói terá de passar a barreira policial, chacinando os agentes que for necessário para a prossecução do seu objectivo. Terá de ser rápido, pois o contingente policial destacado para a zona é grande (por causa da manifestação) e TZ Cunha não conseguirá fazer frente a todos. Pelos corredores da Assembleia adentro, TZ Cunha irromperá pelo “grande salão”, mais concretamente na altura em que o então primeiro-ministro José Sócrates estiver a dissertar sobre a possibilidade da construção de um novo aterro sanitário junto ao Freeport de Alcochete.
Com os tiros mais certeiros que conseguir disparar (cada deputado assassinado por engano resultará na diminuição de créditos, mas não muitos…), TZ Cunha terá de ser rápido e sair tão depressa como entrou.
Com a sua missão cumprida, espera-o uma nova batalha com os polícias no exterior, altura em que terá de roubar um novo automóvel para a sua fuga.
Com os planos de fuga anteriormente preparados, TZ Cunha terá então de fugir dali para fora, despistando a polícia com os seus dotes de condução desportiva.
O destino: Benidorm. E aqui terminará o jogo.

Este jogo estaria disponível, obviamente, para diversas plataformas (Windows, Macintosh, Playstation2 e Xbox, por exemplo).
Uma versão em “formato Monopólio”, com tabuleiro de jogo, dados, bonequinhos e carrinhos, seria também criada.
A banda sonora ficaria a cargo de Paco Bandeira, para dar um toque de realismo e de “produção nacional” à coisa.

Moral da história: provavelmente os dois milhões de euros mais bem gastos deste Euromilhões!

Pensem nisso, seus jogados compulsivos…