1/20/2005

O Terceiro mês

Se está a ler este belógue pela primeira vez, por favor leia as mensagens anteriores ("O primeiro mês", "O segundo mês" e "A Sorte Grande") para se situar no contexto.
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No terceiro mês do resto da minha vida, estava na altura de criar um canal de televisão. A sua modesta missão: tornar-se, em apenas quatro semanas, no canal de televisão mais visto do país!
A parte informativa seria uma componente muito importante no canal DQD. Em vez de jornalistas sérios e isentos, contrataria humoristas e escritores dementes para trazerem as notícias à populaça. Os noticiários seriam completamente opinativos (ainda mais do que na TVi), e os pivots teriam liberdade total para chamar nomes como “filho da puta” e “cabrão” aos entrevistados que bem entendessem. Um noticiário onde os jornalistas chamassem as coisas pelos seus nomes, portanto.
Mas não ficaria por aqui. A estação possuiria um leque de repórteres normais e acreditados, que apenas serviriam para disfarçar um verdadeiro exército de amadores com micro-câmaras e pequenos microfones, todos eles treinados por antigos espiões da Alemanha do Leste. A sua missão: penetrar nas empresas, instituições políticas, sociais, e restaurantes de luxo, e registar todos os podres, todas as negociatas sujas, toda a corrupção e cobrir todas as realizações de filmes porno efectuadas pela fundação criada no primeiro mês (ver mensagem “O Primeiro Mês”).
Toda a gente correria para casa, a seguir ao trabalho, para não perder um único minuto do noticiário da noite (transmitido via satélite para as comunidades imigrantes). Acusações formais em directo, cobertura jornalística das detenções, filmagens sórdidas de políticos a serem sodomizados nas suas celas ou no duche, enfim… haveria de tudo para todos os gostos.
O entretenimento também jogaria um papel fundamental na TV DQD. Só que, em vez de oferecer viagens a paraísos exóticos e automóveis a diesel, os concursos ofereceriam carregamentos de sabonetes, desodorizantes, cebolas e batatas, passeios turísticos à Coreia do Norte, ou qualquer coisa que fosse tida como realmente necessária para os concorrentes, de acordo com a opinião do juri do concurso em questão.
E não se pense que o tema frágil da educação seria deixado para trás. Seriam apresentados diariamente programas realmente educativos em que estrelas da indústria porno dariam aulas de educação sexual, exemplificando in sito e sem qualquer tipo de inibição. Quem diz educação sexual para jovens e jovens adultos, diz educação para idosos. Pequenos cursos instruiriam a terceira idade nas terminologias tecnológicas utilizadas actualmente, como o manuseamento de telemóveis, envio de sms, configuração de programas de email num computador ou o entendimento do calão da juventude sem ter de se assistir às telenovelas da TVi.
Verdade seja dita, se existisse um canal assim, você não o veria atentamente?

Moral da história: existe, de facto, um mundo melhor. Mas são precisos dois milhões de euros por mês para o criar...

Pensem nisso, seus pés descalços...