2/01/2005

O sexto mês

Fique informado sem ter de comprar um único jornal! Leia as mensagens anteriores ("A sorte grande", "O primeiro mês", "O segundo mês", "O terceiro mês", "O quarto mês" e "O quinto mês"). Porquê ser arrastado pela rebentação da onda quando pode andar na crista?
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Quem é que não acha que está na altura de Portugal possuir um jogo de computador? Refiro-me a um jogo de computador de primeiro galardão, produzido pelas mesmas empresas que nos deram espectaculares jogos como o Doom, Gran Turismo, Getaway, etc.
Por isso, após a rápida abertura de um pequeno concurso entre diversas empresas do sector, o vencedor ganharia a oportunidade de produzir um jogo talhado para a realidade lusa.
E quando falo em primeiro galardão, refiro-me a um jogo que misture todas as qualidades dos melhores títulos existentes a nível mundial, com algumas interessantes adições. Seria uma mistura de jogo de acção, condução automóvel a alta velocidade, tiroteio na primeira pessoa e intricada estratégia.
Seria o Portugal Real!
O personagem desse jogo chamar-se-ia Tó Zé Cunha (TZ Cunha).
E eis as missões nas quais toda a acção se repartiria.

Plano e informação

Após uma introdução animada em que se demonstraria porque é que TZ Cunha se passou da cabeça ao ter tentado – sem sucesso – falar com um ser humano inteligente na linha de apoio da Telepac, a acção começaria.
A primeira missão de TZ Cunha: entrar numa Loja do Cidadão qualquer e tentar efectuar contratos de electricidade, telefone, áqua, gás e internet para a sua casa nova, sob um nome falso. A parte do nome falso é a mais simples, pois TZ Cunha começaria o jogo com um crédito de 1500 euros. Isso permitir-lhe-ia obter um bilhete de identidade falso em envelope lacrado, com cumprimentos especiais da embaixada de Portugal em Londres. O problema é que a sua missão será contra-relógio! Apenas terá quatro horas para todas estas tarefas. Logo, terá de se movimentar habilmente entre todas as máquinas de senhas dos diversos departamentos da Loja do Cidadão, retirando por vezes alguns números consecutivos e sempre garantindo que não lhe passem à frente. Pelo caminho encontrará pessoas que chegam aos balcões de senha na mão e com quatro números de atraso, que apenas lá estarão para lhe dificultar a missão.
Na versão mais difícil de “jogabilidade”, metade dos funcionários encontram-se na conversa junto às máquinas de café, tornando todo o processo ainda mais moroso (como na vida real, portanto).
Se completar a tarefa com sucesso, TZ Cunha terá de comprar uma chave de um automóvel a um arrumador que se encontra em frente à loja do Cidadão. Trata-se da chave de um carro cujo dono deixou inadvertidamente cair enquanto lançava as mãos aos bolsos para procurar alguns trocos.

A fuga rápida

É nesta parte que o jogo se transforma numa cena de acção urbana de alta velocidade.
Montado num Subaru azul metalizado, TZ Cunha terá então de se dirigir ao seu novo apartamento onde – reina a ficção – já terá a electricidade e a internet ligada. Porém, ao perceber que está a ser roubado, o dono do carro chama a polícia. Polícia essa que, apesar de nunca parecer estar presente na altura em que os crimes realmente ocorrem, perseguirá TZ Cunha com uma ferocidade nunca antes vista. As cenas de perseguições pela cidade de Lisboa serão providas de um realismo extremo! Todos os buracos que existem nas estradas e que a câmara já prometeu tapar há anos estarão lá representados. E por cada um que TZ Cunha passar, perderá alguma velocidade (podendo ser apanhado pela polícia).
Se conseguir chegar a casa impune e despistar a polícia, TZ Cunha ganhará mais créditos e acercar-se-á do seu computador ligado à net. É aqui que começa a parte de estratégia do jogo.

A estratégia

Portanto, neste momento TZ Cunha será um fugitivo. E não demorará até que o alvoroço criado em frente à Loja do Cidadão atraia a curiosidade dos funcionários, fornecendo estes toda a informação necessária à polícia.
Pelo que TZ Cunha apenas possuirá cerca de trinta minutos para desenvolver uma estratégia de fuga do seu apartamento antes que a GNR lhe bata à porta.
Esta parte do jogo assemelhar-se-á ao conhecido jogo de estratégia Sim City. Neste caso, será o Lisboa City.
TZ Cunha terá de estudar os mapas da cidade e preparar a sua fuga para Espanha. Pelo caminho, terá ainda de passar na Assembleia da República e assassinar um membro de cada grupo partidário. Uma forma de deixar uma mensagem de descontentamento ao estado português.
Um problema: a maior parte dos mapas da cidade de Lisboa estão desactualizados. Por isso, para cada fuga que TZ Cunha estudar, terá de conceber igualmente uma fuga alternativa, não vá o diabo tecê-las.
E voltamos à parte automóvel do jogo.

Missão: Assembleia da República

Ao sair da sua nova casa, na Zona J de Chelas, TZ Cunha terá de fazer contactos com os mafiosos locais com vista a adquirir algumas armas e um novo automóvel que não chame a atenção da GNR. Quantos mais créditos possuir dos níveis anteriores, mais armas e equipamentos poderá comprar.
E dirigir-se-á, então, à Assembleia da República.
Possuirá apenas cinco minutos para o fazer, pelo que terá de ir depressinha. Porquê? Sei lá! Alguém compra um jogo de acção para andar devagar?

Ao chegar à Assembleia…

É aqui que o jogo se transforma num shoot ‘em up passado na primeira pessoa. Munido de potentes armas e, tal como em todos os jogos, podendo perder tempo para as trocar, TZ Cunha tentará entrar na Assembleia com vista a assassinar os dirigentes de cada partido. Esta tarefa encontra-se dificultada, uma vez que às portas da Assembleia está também a ocorrer uma manifestação da Inter-sindical com centenas de militantes de cartaz em punho. Ao vê-lo chegar com tantas armas agarradas ao corpo, o aparato policial que se encontra à porta entra em sobressalto (sejamos realistas, todo o armamento tem de estar à vista: ninguém possui bolsos suficientemente grandes que permitam esconder carradas de armamento. A não ser que se use um sobretudo de lycra, claro, o que levará a polícia a desconfiar porque é que alguém andará com um elefante escondido dentro do fato… Mas isso é outra história…). E aqui começará a verdadeira acção bélica! O nosso herói terá de passar a barreira policial, chacinando os agentes que for necessário para a prossecução do seu objectivo. Terá de ser rápido, pois o contingente policial destacado para a zona é grande (por causa da manifestação) e TZ Cunha não conseguirá fazer frente a todos. Pelos corredores da Assembleia adentro, TZ Cunha irromperá pelo “grande salão”, mais concretamente na altura em que o então primeiro-ministro José Sócrates estiver a dissertar sobre a possibilidade da construção de um novo aterro sanitário junto ao Freeport de Alcochete.
Com os tiros mais certeiros que conseguir disparar (cada deputado assassinado por engano resultará na diminuição de créditos, mas não muitos…), TZ Cunha terá de ser rápido e sair tão depressa como entrou.
Com a sua missão cumprida, espera-o uma nova batalha com os polícias no exterior, altura em que terá de roubar um novo automóvel para a sua fuga.
Com os planos de fuga anteriormente preparados, TZ Cunha terá então de fugir dali para fora, despistando a polícia com os seus dotes de condução desportiva.
O destino: Benidorm. E aqui terminará o jogo.

Este jogo estaria disponível, obviamente, para diversas plataformas (Windows, Macintosh, Playstation2 e Xbox, por exemplo).
Uma versão em “formato Monopólio”, com tabuleiro de jogo, dados, bonequinhos e carrinhos, seria também criada.
A banda sonora ficaria a cargo de Paco Bandeira, para dar um toque de realismo e de “produção nacional” à coisa.

Moral da história: provavelmente os dois milhões de euros mais bem gastos deste Euromilhões!

Pensem nisso, seus jogados compulsivos…