2/15/2005

Uma experiência sociológica (Sétimo mês)

Há fenómenos que sempre considerei interessantes em vésperas de eleições em Portugal. É a adopção dos modelos ou formatos de campanha por parte dos partidos.
O PSD parece ter adoptado o formato americano de "lógica dinâmica cruzada", onde se denota um profissional trabalho de equipa e de consultoria de imagem. Por um lado tentam denegrir a imagem do concorrente mais forte (atirando com as culpas para cima da JSD), por outro tentam surgir como o cavalo branco da salvação da pátria. Estão a imaginar as sessões de fotos em que os candidados têm de posar a pensar que vão aparecer em cartazes?

- Sr. Santana - diz o fotógrafo - vamos lá então fazer uma carinha bonita. Não, sr. Santana! Tem de ser uma carinha inocente... - o fotógrafo desespera - Que é isso, sr. Santana?! Tire lá a mão dos lábios que isto não é um anúncio da Martini! Faça uma cara i-no-cen-te! Lembre-se da cara que fez quando achou que iria mandar em Portugal durante mais uns tempos e o sr. Jorge Sampaio lhe fez que não com o indicador...

O PS, por sua vez, baixa as orelhas e come no focinho, acomodando-se no conforto de saber que, mesmo que deixasse de fazer campanha até às eleições, provavelmente ainda assim daria uma valente coça ao PSD.
E depois temos os jogadores secundários. O CDS tenta abraçar a classe média num momento em que esta mergulha num buraco sem paralelo, o que não deixa de ser bem visto. E a CDU, como sempre, agarra-se ao fosso existente entre os mais ricos e os mais pobres, sabendo perfeitamente que no dia em que esse fosso deixar de existir também o seu partido mergulhará na mais profunda crise.
O Bloco de Esquerda lá nos continua a matraquear a cabeça com ideais e standards de vivência modernos e interessantes, embora completamente desadaptados da nossa realidade nacional. E eu pensava que o BE tinha os direitos de antena mais engraçados, até ter visto as campanhas televisivas daqueles partidos mais obscuros, como o Partido Humanista e o Partido da Nova Democracia. Mas isto são temas para outras conversas...

Então, em que é que consistiria a tal experiência prometida no tema desta mensagem?
Na manipulação de variáveis para a construção do formato de campanha "Diz Que Disseiro".

Em primeiro lugar, mexer-se-ia na variável de atenção mediática, roubando tempo de emissão e importância aos partidos envolvidos na corrida.
Como? Alugando todos os outdoors e cartazes publicitários pelo país fora e imprimindo a mensagem "No dia 20 de Fevereiro, GOLPE DE ESTADO EM PORTUGAL! Participe! Faça parte da revolução! Junte-se ao DQD!".
É irrelevante a organização ou não de uma tentativa de golpe de estado. O que interessa é roubar a mediatização e deixar toda a gente a falar deste suposto evento. Isto reduziria qualquer esforço de atenção dos partidos políticos a uma mera campanha de mercado de peixe.
Depois, o DQD contrataria actores de várias idades, raças e escalões sociais, e criaria anúncios de elevado gabarito para serem passados em outdoors electrónicos, sites na internet, televisão e também alguns canais obscuros da TV Cabo.
"Olá. O meu nome é António, tenho 22 anos, não consigo arranjar emprego. Eu apoio o DQD no Golpe de Estado de dia 20 de Fevereiro! Junte-se a mim e faça parte da revolução".
Enquanto os políticos roçariam as nádegas apertadas nos assentos dos seus BMW's, comentadores televisivos e cronistas da imprensa desdobrar-se-iam em críticas aos autores do DQD, alegando que semelhante tentativa de desvio de atenção das eleições poderia até ser considerada criminosa, anti-constitucional, etc. e tal.
Dois dias antes das eleições, os cartazes de apelo ao golpe de estado dariam uma volta surpreendente.
Actores, músicos, figuras mediáticas, nacionais e estrangeiras, apelariam então ao voto em branco. Um slogan possível? "O país está numa situação NEGRA! O DQD é um site a preto e branco. Neste dia 20, vote branco no preto. Não eleja partido algum!".
Portanto, a experiência consistira em saber até que ponto é que um esforço mediático de contra-informação seria capaz de alterar a consciência pública, levando-a a não decidir coisa alguma, em vez de escolher uma das opções disponíveis (como costuma acontecer). Não percebo muito de ciência política mas, a meu ver, se compararmos os valores projectados de abstenção no início de uma campanha com os valores finais, acho que podemos ter uma noção da eficácia deste processo.
Seria este o modelo Diz Que Disseiro de campanha. O apelo ao voto em branco como forma de protesto pela situação nacional em que vivemos.

Moral da história: o mais assustador é pensar que, provavelmente, uma coisa destas até funcionaria no nosso país, dado o elevado nível de abstenção...

Pensem nisto, abstencionistas imundos...

2 Comments:

Blogger Isa diz que disse...

Estou contigo e com o DQD. Voto Branco. Ainda por cima até já há cartazes e tudo... Mais organizado não podera ser. Não há cara para os cartazes, pois não. Não há objectiva que chegue para apanhar toda a gente que entende que não há um único líder está à altura!

7:24 da tarde  
Blogger Isa diz que disse...

Estou contigo e com o DQD. Voto Branco. Ainda por cima até já há cartazes e tudo... Mais organizado não podera ser. Não há cara para os cartazes, pois não. Não há objectiva que chegue para apanhar toda a gente que entende que não há um único líder à altura!

7:25 da tarde  

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