4/26/2005

Viagens no tempo

De acordo com o novo plano de apoio às novas tecnologias (UCPT), montes de empresas poderão vir a ser fiscalmente beneficiadas se investirem na integração entre a tecnologia de investigação e sua estrutura empresarial.
E como um benefício fiscal não é coisa de se deitar fora neste país, venho por este meio apresentar a minha nova empresa. Chama-se Time Travel.
Vai ser uma empresa especializada em viagens no tempo não intrusivas (VTNI). Confesso que ainda pensei em investigar formas de ajudar os tetraplégicos a andar novamente mas acabei por desistir. Achei que era um projecto um bocado parado! (Porra! Eu vou parar ao inferno por mandar piadas destas...)
As VTNI têm uma particularidade especial quando comparadas com as viagens no tempo fictícias a que os filmes nos habituaram. É que não é preciso ser um candidato ao Nobel da Física para se perceber que, se nos intrometermos no passado, obviamente alteraremos o futuro.
Por isso, é preciso arranjar uma forma de podermos apenas observar o passado mas sem mexer nele.
Imaginem se os espanhóis tivessem a possibilidade de voltar atrás e renegociar o Tratado de Tordesilhas! Com os políticos acolhoados que cá temos, o Brasil ainda era trocado por uns vales de compras no El Corte Inglés.
Na realidade, julgo que este plano é interessantíssimo do ponto de vista do avanço tecnológico do nosso país. É que, em termos científicos, o que falta aos nossos investigadores são apenas meios para alcançar fins. Com alguns subsídios a fundo perdido e incentivos fiscais vamos, sem dúvida alguma, tornar-nos num dos países mais desenvolvidos do planeta (e, quem sabe, do próprio Universo!).
É por isso que a Time Travel nunca viu a luz do dia. Faltavam-me meios. Mas a teoria está cá toda. Só preciso de uns cortes nos impostos para me decidir a construir o meu peep-show temporal. E agora parece que isso vai ser mesmo uma realidade!

Já agora, para os mais curiosos, passo a explicar como é que descobri como viajar no tempo. Afinal, como ainda ninguém sabe como o fazer e a actividade da UCPT foi anunciada para breve, é uma questão de tempo até toda a gente lá chegar. Não vale a pena tentar esconder descobertas científicas.
O processo é muito simples. Na realidade, é tão simples que até vou explicar como se fosse uma receita culinária.

Passo 1

Faça uma fita de Moebius. Trata-se de uma superfície de duas dimensões com um lado apenas. Assim, se caminharmos continuamente ao longo da fita, atravessamos ora uma, ora outra dimensão.
Faça a prova dos nove. Olhe para a imagem que se segue e imagine uma formiga a andar ao longo da fita. Como reparará, a formiga percorrerá toda a fita, ora aparecendo de um lado, ora do outro. E a única coisa que fez foi apenas andar em frente.



Fantástico, não? O matemático que deu o seu nome à fita deve ter utilizado um toalhete refrescante ou uma folhas de papel higiénico para chegar a este resultado.
Mas nós somos mais ambiciosos. Por isso, vamos usar a colcha de uma cama de casal.

Passo 2

Construída a sua fita de Moebius, que nesta altura ocupará metade da sua sala de estar (não se preocupe, pode sempre voltar ao presente uns minutos antes do seu marido chegar a casa e arrumar tudo no sítio), está na altura de instalar o módulo temporal.
Para isso, basta descobrir um coelho mecânico ou qualquer outro boneco de criança que se mova a pilhas.
E é aqui que damos uma abébia ao Einstein!
A teoria do dito cujo é de que qualquer matéria se transforma gradualmente em energia à medida que a sua velocidade se aproxima da velocidade da luz, numa proporção equivalente a E=mc2 (em que E é a Energia, m é a massa do objecto e c2 o quadrado a velocidade da luz).
Ora isto não passa de um puro disparate!
Para começar, se nada se move mais depressa do que a luz, então não faz sentido falar da velocidade da luz ao quadrado. E em segundo lugar, se a luz é apenas energia fotónica sem massa, isso significa que essa energia se dissipa com o tempo.
Mas como o nosso coelhinho mecânico vai levar pilhas Duracell, a sua energia vai durar muito mais tempo do que as previsões de Einstein.
Assunto arrumado.

Passo 3

Agarre então num relógio qualquer que possua em casa e amarre-o ao coelhinho amoroso. E ponha-o a andar por cima da fita de Moebius (dou uma beijoca a quem me explicar como é que se pronuncia o nome deste gajo!).
O coelho vai desatar a andar pela fita fora sem parar, e cada volta que ele der corresponderá a uma regressão de um ano.
Aconselha-se a não utilização de um relógio digital (tipo Casio) mas sim um relógio de ponteiros. Por nenhum motivo em especial. Apenas porque os relógios digitais são extremamente fatelas e não possuem a classe a que um viajante no tempo deve aspirar. Viajar no tempo com um relógio digital é o mesmo que aparecer no Praia Caffé, no Estoril, vestido apenas com uma camisola interior e a coçar o baixo tomatal por cima das cuecas. Não bate certo (e muito dificilmente arranjará mesa nessas circunstâncias. Mesmo que tenha feito reserva...).
Quando achar que o coelhinho deu as voltas correspondentes ao ano a que quer regredir, feche os olhos e expire todo o ar para fora dos seus pulmões (com toda a força que conseguir).
Se a energia do corpo humano não passa de uma decomposição de glucose no sangue e este é bombeado através do ritmo cardíaco que - entre outras coisas - pode ser controlado pela respiração, então expirar todo o ar significa tirar temporariamente toda a energia do corpo. Ora se a energia é igual a 0, de acordo com a fórmula de Einstein (à qual voltamos por conveniência) isso significa que a nossa massa é também igual a 0, pois a velocidade da luz é constante (E=mc2). Assim, sem massa corporal e sem qualquer energia (uma vez que não existe massa onde essa energia se possa aplicar), poderá então abrir os olhos e acordar na época pretendida. E não se preocupe com o presente. Pois se a massa do seu corpo for igual a 0, sendo 0 o elemento absorvente da multiplicação, isso significa que a velocidade da luz também vai ser obrigada a regredir para 0. Ou seja, o tempo parará no seu presente relativo, e assim você poderá apreciar a estadia no passado sem qualquer medo de que o presente "continue a acontecer" sem si.

Passo 4

Para voltar novamente ao presente, basta repetir o Passo 3 mas com o coelhinho a andar em sentido contrário.

É óbvio que o processo não é assim tão simples.
A marca do relógio, por exemplo, é muito importante.
Deverá ser um Swatch ou um Tissot?
E o coelhinho? Será uma versão cuidada do coelho da Duracell feita com amor e carinho por um artesão experiente e capaz? Ou uma imitação chunga comprada numa loja chinesa dos 300?
Há muitas coisas a ter em consideração para que estas viagens possam ser consideradas seguras e homologadas.
É por isso que a Time Travel vingará!

Moral da história: sr. Sócrates, venha daí esse cheque em meu nome!

Pensem nisto, seus caretas do presente...

1 Comments:

Blogger JacoB01 diz que disse...

Perfeito!

6:39 da manhã  

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