O dia-a-dia de uma onomatopeia
Ela olhou para trás, em jeito de desdém, e fulminou-o com o olhar!
"Vai-te embora!", disse, "e não voltes a esta casa enquanto não conseguires voltar a fazer ZOUCH! como deve ser!".
Ele saiu. Pareceu-lhe injusto ser tratado daquela forma. Especialmente porque, se bem se lembrava, da última vez que a tinha beijado pareceu-lhe ouvir um distinto TWANG! Nada disso contava agora.
Deprimido mas, ao mesmo tempo, com uma determinação invulgar, partiu pela cidade fora a pé, respirando os ares frescos e nocturnos de Inverno. Tudo à volta parecia fazer ZOUCH! como que para o provocar. Mas, por mais que tentasse, não conseguia a terminação. Apenas lhe saía um mudo Zou...
Decidiu que fazer ZOUCH! não seria tão importante para si como o foi no passado. Ele tinha a sua personalidade, e quem não o achasse atraente com os seus brilhantes TWANG!'s, PAFF's e POU's não era digno de merecer a sua companhia.
Pelo caminho, tudo e todos se tornavam numa ostentação de uma liberdade há muito perdida. Os sons que escutava eram confirmações da sua solidão. "Ser solitário não é a mesma coisa que ser só", pensava ele, tentando racionalizar a questão. Algo que, na realidade, não acreditava muito. É que, ao contrário do que muitos julgam, as pessoas não foram feitas para estar sozinhas. São pequenas e insignificantes demais para se permitirem não serem íntimas.
Durante as semanas que se seguiram, sonhava com ela constantemente. Os seus intricados sonhos estavam repletos de cenas de convívio. Não memórias, mas passados que não existiram. Cenas com amigos e familiares. Cenas de copos, jantares regados a risos e paródias e qualquer coisa que o afastasse da solidão. Uma espécie de encorajamento para que não desistisse.
Pois toda a gente se engana. E voltar a cometer erros já cometidos é humano.
O sofrimento nunca é uma opção. É um acidente. Um erro de percurso.
Hoje ele é mais feliz. Não encontrou mais ninguém, mas encontrou-se a si. E já não se sente só. Não consegue fazer ZOUCH! como antigamente. Mas também já não lhe importa. Conformou-se com a realidade. E como forma de compensação, faz os melhores TWANG!'s e DJIBUNG!'s que alguém já ouviu!
A cidade continua viva. Orgânica, em movimento, a chamar por todos os que queiram dela usar e abusar.
E naqueles dias de maior solidão, naquelas noites em que não se lembrou de alugar um filme no clube vídeo, naquelas noites em que não dá nada que preste na televisão (um dia qualquer, no fundo), naqueles dias em que ninguém lhe excita os toques do seu novo telemóvel, naquelas noites solitárias em que - se escutar com atenção - ainda consegue ouvir a voz dela, nessas noites ele verte uma lágrima. Recorda-se. Mas não se sente arrependido.
Pois uma onomatopeia nunca deve ser pressionada para descrever um som que já não consegue ouvir.
E é essa a causa de grande parte da solidão que abunda por este mundo. Não a capacidade de não produzir, mas a incapacidade de ouvir.
Moral da história: devem ser os 30 anos que chegam na próxima Quinta-feira...
Pensem nisto, trintões solitários...
"Vai-te embora!", disse, "e não voltes a esta casa enquanto não conseguires voltar a fazer ZOUCH! como deve ser!".
Ele saiu. Pareceu-lhe injusto ser tratado daquela forma. Especialmente porque, se bem se lembrava, da última vez que a tinha beijado pareceu-lhe ouvir um distinto TWANG! Nada disso contava agora.
Deprimido mas, ao mesmo tempo, com uma determinação invulgar, partiu pela cidade fora a pé, respirando os ares frescos e nocturnos de Inverno. Tudo à volta parecia fazer ZOUCH! como que para o provocar. Mas, por mais que tentasse, não conseguia a terminação. Apenas lhe saía um mudo Zou...
Decidiu que fazer ZOUCH! não seria tão importante para si como o foi no passado. Ele tinha a sua personalidade, e quem não o achasse atraente com os seus brilhantes TWANG!'s, PAFF's e POU's não era digno de merecer a sua companhia.
Pelo caminho, tudo e todos se tornavam numa ostentação de uma liberdade há muito perdida. Os sons que escutava eram confirmações da sua solidão. "Ser solitário não é a mesma coisa que ser só", pensava ele, tentando racionalizar a questão. Algo que, na realidade, não acreditava muito. É que, ao contrário do que muitos julgam, as pessoas não foram feitas para estar sozinhas. São pequenas e insignificantes demais para se permitirem não serem íntimas.
Durante as semanas que se seguiram, sonhava com ela constantemente. Os seus intricados sonhos estavam repletos de cenas de convívio. Não memórias, mas passados que não existiram. Cenas com amigos e familiares. Cenas de copos, jantares regados a risos e paródias e qualquer coisa que o afastasse da solidão. Uma espécie de encorajamento para que não desistisse.
Pois toda a gente se engana. E voltar a cometer erros já cometidos é humano.
O sofrimento nunca é uma opção. É um acidente. Um erro de percurso.
Hoje ele é mais feliz. Não encontrou mais ninguém, mas encontrou-se a si. E já não se sente só. Não consegue fazer ZOUCH! como antigamente. Mas também já não lhe importa. Conformou-se com a realidade. E como forma de compensação, faz os melhores TWANG!'s e DJIBUNG!'s que alguém já ouviu!
A cidade continua viva. Orgânica, em movimento, a chamar por todos os que queiram dela usar e abusar.
E naqueles dias de maior solidão, naquelas noites em que não se lembrou de alugar um filme no clube vídeo, naquelas noites em que não dá nada que preste na televisão (um dia qualquer, no fundo), naqueles dias em que ninguém lhe excita os toques do seu novo telemóvel, naquelas noites solitárias em que - se escutar com atenção - ainda consegue ouvir a voz dela, nessas noites ele verte uma lágrima. Recorda-se. Mas não se sente arrependido.
Pois uma onomatopeia nunca deve ser pressionada para descrever um som que já não consegue ouvir.
E é essa a causa de grande parte da solidão que abunda por este mundo. Não a capacidade de não produzir, mas a incapacidade de ouvir.
Moral da história: devem ser os 30 anos que chegam na próxima Quinta-feira...
Pensem nisto, trintões solitários...
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