3/18/2005

O décimo primeiro mês

Quer ficar por dentro? Leia as mensagens anteriores ("A Sorte Grande", "O primeiro mês"..., ..., "O décimo mês") e saiba do que é que se está para aqui a falar. Se não quiser fazê-lo, o problema é seu. Não é, meu amigo?
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Se há coisa que me chateia observar na televisão de quando em quando são aquelas exposições caninas de ditos cães de "marca". Que eu saiba, todos são cães. Canis familiaris. E ao observar semelhantes exposições, apenas me revolto contra a pomposidade e ostentação dos seus bimbos donos que, esses sim, deviam ser casos de estudo e exposição pública.
Por isso, porque não fazer uma exposição dedicada aos donos de cães de exposições?
À partida, eles não aceitariam semelhante proposta. Pelo que teria de se mascarar o evento de alguma índole social. Poder-se-ia informar todos os visados, por exemplo, que esta exposição de leve tom teria o intuito de recolher fundos de bilheteira destinados ao auxílio da União Zoófila e instituições similares (e porque não fazê-lo mesmo, no final?).
É claro que a realidade seria outra. Com a lista de participantes nas mãos, um grupo de humoristas (ocorre-me, despropositadamente, que poderiam ser os Diz Que Disseiros) dedicar-se-ia a criar uns quantos cartazes e placards informativos que seriam colocados junto aos stands onde os criadores e donos estariam expostos. Nesses cartazes poderiam estar inscrições como:

Ana Cláudia Fonseca
38 anos
Divorciada
O marido deixou-a sem nada, tal como quando a conheceu
Encontra-se a pagar a operação plástica aos seios com crédito de 5 anos na Corporación Dermoestética
Teve de se mudar para a Reboleira, pois já não tem condições para morar em Cascais
Por favor, contribua para a causa da Ana Cláudia, evitando assim que ela continue a decorar os seus cachorros como forma de compensação psicológica

E por aí fora.
Estes placards, obviamente, só seriam colocados após a exposição ter começado e os donos estarem nos seus respectivos pedestais.
É claro que não ficaríamos por aqui. Enquanto os donos estivessem na exposição, uma equipa de cabeleireiros de animais dirigir-se-ia às casas dos ditos cujos e faria verdadeiras obras de arte com o pêlo dos seus animais de competição. Pinturas com sprays, tosquiadelas com aparência de terem sido efectuadas pelo Stevie Wonder, perucas à Ziggy Stardust e fatos sado-masoquistas de cabedal seriam aplicados aos animais, cujo propósito seria mostrar aos donos que - por mais humilhações que possam sofrer - é sempre possível ir um pouco mais abaixo. Tudo isto sem prejudício e com o melhor dos tratamentos para os bicharocos, claro, que culpa alguma possuem no processo.
Na FIL, enquanto que todos riam e apontavam para os expositores, em jeito de chacota, lendo os placards que as partes visadas desconheciam, estava na altura da surpresa da noite.
Centenas e centenas de cachorros rafeiros, abandonados, retirados das ruas e dos canis municipais, entrariam pelo recinto adentro, latindo ferozmente, urinando e defecando por todo o lado, e montando verdadeiras guardas à volta dos espaços de exposição, obrigando os donos queques a permanecerem imóveis nos seus lugares. Entraria então em acção uma equipa de fotógrafos que registaria um conjunto enorme de fotos para a posteridade, enviando dezenas delas gratuitamente para todas as revistas de canídeos de competição.
No final da exposição, confrontados com a humilhação que sofreram e cheios de vontade de processar os organizadores dos eventos, os advogados do DQD sentar-se-iam a uma mesa com os ditos donos. Explicar-lhes-iam que, quando assinaram os papéis em que se comprometiam a colaborar na exposição, deviam ter olhado melhor para a cláusula que determinava que a sua participação estava sujeita aos termos e condições da entidade organizadora.
E enquanto o fungagá legal de donos versus advogados tomava lugar, noutro espaço da FIL tomava lugar um leilão destinado a encontrar casas para os centenas de cachorros que "decidiram" participar na brincadeira.

Moral da história: de facto, o cão é o melhor amigo do homem. O que esta expressão não explicita é se a cadela é ou não a melhor amiga da mulher. Mas tudo indica que sim...

Pensem nisto, num mundo melhor...

PS: na realidade, não me encontrava muito inspirado hoje. Mas como tive alguns minutos para vir aqui deixar uma mensagem, não quis perder essa oportunidade. O que prova que a inspiração é como a vontade de trabalhar: só vem quando lhe apetece...