3/09/2005

O décimo mês

Você gosta de colo ou de empurrão? Empurre-se para o colo do conhecimento e fique dentro do contexto, lendo as mensagens anteriores ("A Sorte Grande", "Primeiro mês"... etc. ... "Nono mês")
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Ouvi dizer, algures, que um dos grandes problemas da vida é não ter música em background.
Na realidade, com a miríade de leitores portáteis de mp3, iPods, walkmans, minidiscs, discmans, etc. esta chatice é cada vez menos perturbadora. É hoje possível levar a música connosco para quase todo o lado (até para a sala do dentista, no caso do autor destas linhas...). O grande problema, claro está, é que música ouvir?
Todos temos as nossas preferências, todos gostamos de conduzir com determinado estilo musical, todos gostamos de contemplar qualquer situação através da música, seja como fonte de adrenalina ou como motivo de inspiração.
Porém, o facto de possuirmos preferências não significa que saibamos ouvir a música certa no momento certo. O que é uma pena, note-se! Pois há inúmeras tarefas na nossa vida que seriam extremamente facilitadas e até melhoradas se tivéssemos acesso ao som certo na altura em que ele é preciso.
É por isso que, neste mês de vida, dedicar-me-ia a construir a primeira escola mundial de PMC's (Personal Music Consultants).

PMC - Personal Music Consultant

Actualmente, com tanta música disponível quer através da internet, lojas ou de outra forma qualquer, ouvir a música certa no momento certo pode fazer a diferença entre uma vida mais bem sucedida ou um estado de depressão profunda.
O PMC seria um profissional que, à semelhança dos Personal Trainers de ginásio, acompanharia permanentemente o seu cliente para todo o lado. Quem sabe se não poderia até acumular funções de motorista?
O cliente acorda, depois de uma noite de borga, e, enquanto se dirige para um merecido banho, pensa colocar o seu disco preferido de U2 na aparelhagem para ouvir enquanto se lava. Será nesta altura que o PMC dirá qualquer coisa como "Não, meu amigo! O amigo Faria gosta de música mas não sabe ouvi-la. É por isso que eu estou aqui. É por isso que me paga. O meu amigo esteve numa borga ontem à noite. Divertiu-se, bebeu uns copitos e chegou até a fumar uma ganza. Enquanto estiver a tomar banho vai recordar-se dos momentos altos da noite de ontem. Por isso, não convém glorificá-los com uma música de pop-rock progressivo. O que o meu amigo precisa, isso sim, é do Reign in Blood dos Slayer. Assim, poderá acordar mais facilmente e preparar-se para o dia de trabalho que o espera."
De volta do trabalho, dentro do carro, Faria aprecia o caminho para casa. Conduz junto ao rio e pensa que talvez seja boa ideia ligar o rádio na frequência da Comercial para ouvir uma chachada contemplativa enquanto observa o rio a passar do seu lado esquerdo. E o PMC, profissional íntegro e responsável, diz "Não, não, amigo Faria. Você agora não precisa de música da treta complementada com informações de trânsito. Você agora quer contemplar o momento de regresso a casa. Por isso, vai ouvir calmamente umas guitarrinhas do Gustavo Santaolalla. Assim vai contemplar melhor este solinho de fim de dia e esquecer-se que o resto do mundo existe."
Porém, é nas festas caseiras e jantares que os PMC são mais necessários. A tendência normal das pessoas é colocar a música que gostam de ouvir, esperando inconscientemente que todos a apreciem em igual medida. Mas isto não é necessariamente verdade. A maior parte das vezes temos de nos contentar com o adequado, e não com o desejado. Por isso "Amigo Faria, o jantar vai ser íntimo e à luz de velas com a sua namorada nova, certo? Porque raio é que quer ouvir a banda sonora do Titanic?! O que é que lhe passou pela cabeça? A sua namorada tem alguma cultura geral, não tem? Então vai ouvir o Maiden Voyage do Herbie Hancock, mas com um volume baixinho. A música não se pode sobrepôr aos sons naturais da vossa conversa. Tem de ficar em background. E já agora, amigo Faria, perdoe-me que escape ao limite das minhas competências, mas tire já essa gravata nojenta antes que eu a enforque com ela!! Não precisa de me agradecer. Este é o meu trabalho."

Moral da história: nem sempre o que queremos e gostamos é o ideal para nós.

Pensem nisto, seus ouvintes destreinados...

1 Comments:

Blogger Isa diz que disse...

E como é que um gajo sabe o que é melhor para si sem ter de pagar a um PMC?

2:06 da manhã  

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