12/15/2004

A tradição...

Nunca gostei da tradição das passas na passagem de ano, esse absurdo jogo de colocar ínfimas porções de alimento na boca a cada badalada. Geralmente esta prática é iniciada pelo elemento histérico-excitado da família, que não entende que a maior parte dos presentes só quer ver a Música no Coração em paz, levantar-se, dizer hurra no momento x, e sentar-se ainda a tempo de ouvir o Edelweiss. Mas não. O/a animador/a corre para cá e para lá, gritando “as passas!, as passas!”, obrigando a todos uma animação ditatorial, chegando até a nem deixar o avô de 90 anos começar a comer as passas antes dos 12 toques, o que seria correcto visto as capacidades limitadas da sua ausência de dentição. Ali ficamos nós, com os nossos sorrisos amarelos à espera que chegue a maldita hora, incomodados pelo suor que se começa a formar na mão fechada.
A verdade é que nunca, mas nunca, ninguém consegue acertar a mastigação das passas com os badalos, e acabamos por comer as últimas 6 de uma assentada. Quanto aos desejos, ou escrevemos primeiro uma lista, ou vão ser todos iguais: saúde, dinheiro, gajas, dinheiro, gajas, gajas. Por estas razões a tradição das passas deveria ser abolida e substituída por uma inovação (ainda por ocorrer) na indústria alimentar: o Passão.
O passão é uma passa gigante tipo um Ferrero Rocher semi-mastigado. Põe-se o passão na boca, vai-se mastigando enquanto o relógio conta ao contrário, enviando por fim a pasta resultante até ao estômago com o auxilio de um gole de champagne. As utilidades são óbvias. Primeiro, cada um pode retirar sem muito esforço o seu passão da taça, evitando assim aturar a correria do histérico. Segundo, como é provável o estômago não apreciar tal produto alimentar, podemos ir para casa mais cedo porque nos dói a barriga. Terceiro, se a festa já estiver morta, podemos todos divertir-nos durante horas a observar as figuras do avô a tentar mastigar o passão.

Como dizia o André, pensem nisto meus histéricozinhos natalícios.

1 Comments:

Blogger ana.in.the.moon diz que disse...

Sugestão: já há muito que me passei para as sultanas. Não têm tradição nenhuma mas ao menos não tenho que aguentar o "histérico/excitado" a dar-me cabo da expectativa de vida pelo resto da noite. Põem-se todas numa mão, atiram-se para a boca, mastigam-se ligeiramente e digerem-se com o auxílio de uma garrafa de espumante (para mim, Murganheira seco ou meio-seco). A cada ano que passa vou convertendo mais alguém...

1:40 da tarde  

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